sábado, 31 de outubro de 2009

Colher de pau

aprender me deixa feliz
ler me deixa feliz
tardes de sol me deixam feliz
ficar sozinho me deixa feliz
companhia me deixa feliz

fiquei tão feliz que vou fazer um brigadeiro
quer uma colheradinha?
clica ali no botãozinho de comentários
diz que passou aqui

talvez não possa partilhar o brigadeiro
porque ele é bom.
eu gosto muito
e acaba rápido

mas, não se preocupe
pego uma colherada bem cheia de felicidade
para dar para você!

porque tem dia que eu descubro coisas sobre mim
que eu me leio em versos e cílios
que eu me encontro em raios e reatores da lâmpada da cozinha
e, na minha pequenez, isso me deixa feliz.

e pouca coisa me deixa mais feliz do que um montão de brigadeiro
oba!

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Piloeira

desses dons do café
dessa pele mocaccino
desse latte, leche, liberdad

aquela vontade de te mastigar
de sentir teu corpo morno, quentinho
a fumaça saindo da caneca
e aquele lugar estratégicamente colocado entre a orelha e o pescoço.

sabe, quando eu tomo muita coca e vejo tudo tremendo?
e não consigo ficar parado.
e não consigo parar de pensar.

você é uma coca, com potência de expresso e sabor de chocolate.
me deixa vendo tudo tremendo.
não consigo ficar parado.
não consigo parar de pensar.

seus tons.
porque você é colorida.
e sua meia risada, aquela que você começa e termina com um sorriso.

sua pele é como a espuma de sorver aos poucos
de deixar escorregar sob os lábios
de sabor suave, leve.

esse corpo de montanhas espanholas.
ibéricas.
portuguesas, claro.

tudo culpa daquela mantinha.
que chamo de nossa, mais por possessão que por qualquer outro motivo.

e da minha mente.
que abriga toda a sorte de fantasias.
que você folheia, folheia e deixa permear seus pensamentos, sem querer.

sua única indagação, nem mais me preocupa.
porque, essas coisas não me preocupam.
já construi tudo, aqui dentro da cabeça.

como em um bom café quentinho nos dias de ficar em casa.
me acorda, e também me faz adormecer.
entre cor, sabor e temperatura.
mais de pó ou de grão, tens tudo.

és minha fruta favorita.
cheira a café da manhã.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Memória musical olfativa

Para variar ia escrever outro texto.
Outra coisa. Estava quase terminando. Aí, Bam!Kapow!Splash!Pow!

sonhei com você novamente
e, os deuses sabem como eu entendo de sonhos.

porque, vou te contar um segredo, sonhos não são o que as pessoas pensam que são
são o que as outras pessoas pensam sobre os sonhos.

e aí, aparece você, toda libidinosa e com aquele sorriso que, deus, derreteria o gelo do whiskey.
aquelas mãos que, pelas barbas do velho, parariam uma guerra. chamariam um ônibus, estourariam o estopim de qualquer TNT, bomba nuclear, bandinha de rock para garotas.

que eu faço contigo, me diz?
queria poder desdobrar seus sentimentos pra te dizer, é assim, honey, é a vida, é desse jeito que é, e você sente, isso, isso e isso.

mas, não, se não me deixa.
nem entrar nem sair. fico na soleira da porta, treinando malabares.

até o diabo decorou o cheiro dos teus cabelos.
eu sou só um homem.
versado em certas coisas, idiota em todas as outras, mas, poupe-me dessa prosopéia sentimental.

e me diz, porque você insiste tanto em habitar os meus sonhos?
é teu desejo de se firmar na minha vida, de me deixar entrar e deitar no sofá para ver desenho, como fazíamos quando o sol ficava nublado.
ou é outra coisa. outro diabo de coisa. diabo de cheiro. dos seus cabelos.

e não é só as músicas. porque também tem elas.
guanabatz. sabe? não é só rockabilly, porque, nem disso você gosta.
não é só os favores que você faz para mim, e, que, poxa vida, você nem sabe que nem para mim são.

é algo tão enraizado nesses seus olhos, que vem com aquele seu tom de voz. e como você pensa e mexe nos cabelos.
e quando você me abraça.

não é paixão.
porque de paixão eu estou farto e, sei muito bem identificar os sintomas. doença que se pega mais de uma vez. dois golpes no mesmo cavaleiro de bronze.

é angústia.
uma angústia incessante de te decifrar.
bendita!
uma angústia de te ter na cama ou em qualquer outro lugar. só nós.
é esse cheiro e, deuses sabem como eu quase não sinto cheiros, que impregnou em mim.

cadê você, minha nega.
que eu te chamo e você não vem?
no fundo, no fundo, acho que a ardilosa é você.
que sabe de tudo. que sempre soube.
que me observa desde os tempos que a gente desenhava.

e aí, meio subconscientemente você desenhou essa situação toda.
desenhou para você
e to aqui, tentando ser a pedra roseta.

e aí tudo me diz.
o céu me diz, a salamandra me diz, a serpente me diz, o metrô me diz.
todos os sinais me dizem, falam seu nome.
e você.
você não.

é aquela música do guanabatz. love generator.
queria poder te encontrar em um lugar que não existe mais.
que foi só nosso por 45 minutos, sem você saber.

naquele dia que você viu todas as minhas cicatrizes.
e disse alguma coisa que eu não lembro. mas foi bonita.

queria te pedir também pra trocar de pijama, e vou esvaziar todos os potes de shampoo.
não quero nem saber se são ou não seus.

só para saber de onde vem esse cheiro.
esse maldito cheiro que vem do seu cabelo.
e me faz pensar em você.
mesmo quando você está longe.
e não está nem perto de pensar em mim.

versado em coisa nenhuma.
sou o mesmo idiota de quando te conheci, preta.
o mesmo.
só que a gente já se esqueceu.

me ajuda a lembrar.
e faz como no meu sonho.
me leva para aquela varanda e me mostra porque eu gosto de mulheres como você.

para um amante do mundo.
até que eu não ligo de pousar uma noite.
desde que a cadeira de balanço esteja perto.
e tenha pizza no forno.

se você ler isso um dia.
me ajuda a lembrar.
ou vai ficar tudo meio enevoado, como num sonho, como naquela música do guanabatz.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

nem tente entender dr. jekyl em malibu

falar de dor é complicado
mas eu ouço elvis e plasticines
e surfin music e um groove old school

não melhora em nada
falar de dor é como falar de amor
um infinito de sinônimos vazios
buscando um sentido que nem sempre é seu

nessas horas, eu nem sempre sou eu
nem o conselho de cadeiras velhas no meio do meu peito entra em consenso
é algo fora de sensação, fora desse plano, dentro da minha cabeça
debaixo da minha pele, sobre os meus olhos
entre minhas mãos trémulas

e não é lágrima
não é grito
não é fúria
não é luta
é dor
lastiante
de esmigalhar os ossos
e fazer elvis soar como smiths
e plasticines como qualquer quarteto de cordas ou Stan Getzs
e nem dele eu gosto

mas, a vida é shuflle
para bem ou para mal
e aí, quando aparece alguma canção daquelas que me deixa mal
aquela do tim, aquela do cazuza, qualquer uma do weezer ou o diabo
dói como se eu tivesse injetado fluído de isqueiro nas veias
e, nem de cigarro eu gosto

muito tempo atrás, embora pouquíssima gente saiba
eu fotografava
e era lindo
mas, nunca tive muito dom com o revelador
e minhas obras primas ficavam brancas e estouradas como uma manada de bisões nas colinas da Pangea
e eu as amava em sua imperfeição
embora buscasse sempre o impecável
o pleno, o equilibrio entre as cores
o agradável aos olhos
o bem visto

acho, que no fim é isto
fiquei tempo demais no revelador
estou branco, pálido, estourado como se nenhuma gota de sangue cigano, nórdico, ibérico, corresse nas minhas veias

irônico
meu problema sempre foi me revelar demais
abrir a porta do conselho das cadeiras e dizer
entre, fique a vontade

uma dor infindável que corrói aquela mesa ancestral
de coisas e coisas que nem lembro que fiz
porque, de fato, não era eu.

não é tristesa
nunca fico triste.
acordo cantando.
trabalho sorrindo.
é uma dor.
um dor tão aguda
que me obriga a escrever sobre ela.

ficção ou não
é tão real quanto o blanka ou, sei lá, o maradona
percebe, é um dia sem caixa alta
um dia que eu deveria estar datilografando coisas que você nem imagina na minha hamilton 1910
minha querida

fico pensando
em tanta coisa
mas, é como se o dr.jekyl vivesse em malibu
simplesmente não faz sentido
um episódio de csi onde o sonic é o assassino.
uma vida, de faroeste, sem zumbis, alienígenas, mutantes ou círculos secretos de magia

então, só para fazer você sofrer
vou escrever até os dedos cansarem
é diferente quando sou eu que estou falando
é diferente porque eu tenho as rédeas das coisas
e sou mais forte que uma muralha de pedra
sou um zigurate de zinco com todo o pleonasmo que sua orelha aguenta
sou aquela música das Donnas, you can play my game.
just tell me your name
é como naquele outro poema que escrevi
como nas vezes que meus neurônios vencem por superiodade númerica
a letra diz, i let you play my flipper, if you let me unzip your zipper.
e tenho andado tão emotivo ultimamente que uma letra me faria matar
um solo de guitarra para arrancar a traquéia de alguém
e sei tanta coisa de soldado que pouca gente sabe
sei tanto ponto de veias e artérias principais que os livros de anatomia parecem aquela massinha de conjunto do dr. opera-tudo

mas, esse filha da puta me impede
porque é assim que sou
cósmico como algo que condena o cometa
converso com Galactus de igual para igual
e sei nomear todos os corpos estranhos em órbita de Urza Mayor
aprendi a me guiar pelas estrelas e comer pouco
e você nem imagina como é comer pouco

e aprendi o galador de invocar gigantes
e os espíritos dos que vieram antes de mim atendem as minhas preces
e vejo todos no vale que visito em meus sonhos

e aí vem aquele solo de guitarra de Hunger
e o sabor de incontáveis beijos de mulher
rs.
coral fang, ela canta.
eu te vi cantar.
vi tantas.
não só agora.
me diz, quantos anos foram.
um milhar, uma dezena de milhares
é claro, daí que vem

cada sabor que sinto como uma melodia
como a neve que tem textura e cor
e, ninguém conhece tanto da neve quanto eu
que nunca vi

e as cadeiras rachariam
tombariam como cavalos alvejados pelas longas lanças macedônias
piquetes
e tenho saudades de armas que nunca vi
e dos fios que beijei enquanto dormia coberto de sangue, folhas e ocasionalmente alguns mortos
e até do negrume das balas
que, nem de balas eu gosto

doçura, gentileza
e aquele rosto tão lindo
que seria um impropério dizer que assombra minhas noites
faz mas é por me abençoar
com aquela sua ternura
ai ai.

se tudo isso me fizesse sentir menos dor.
menos dor.

não tomo remédios.
há séculos.
me cuido como dá.
a natureza dá lá seu jeito e vou vivendo enquanto o pulmão deixar.
mas, se quando eu for, o sofrimento espalhar essa dor, que sinto
se Réa não a quiser em seu leito e a disseminar sobre a terra
poupe, querida dor
aqueles que amo
por não saberem o que sinto
mas, por se esforçarem tanto, tanto em saber.

acho que no fim.
somos só eu e você.
sempre foi não é, nos três.
minha amada dor e a belíssima solidão.

e mesmo quando a escuridão vem fazer companhia
somos orgulhosos demais para ela.
e não me deixe, dor querida.
és tudo que tenho.

de lamúria a súplica.
é claro que já usurpaste minha sanidade
deixa ao menos, as palavras que me compõem
que não são só minhas
e que, jamais, serão suas.

a verdade está escondida em todas as flores
em cada instante que visito o céu em um rosto desconhecido
em cada oração de mãos calejadas para esse deus de tolos
em cada pomar que não dá frutos, mas que germina uma infinidade de cores

nem toda uva dá bom vinho
nem toda colheita bom azeite
nem toda solidão é um martírio
nem toda dor é um deleite
nem toda ficção é abstrata
nem toda ilusão desfoca a mente
corram todos enquanto é tempo
a dor faz os lobos mostrarem os dentes

eriçarem o pelo
correrem na mata
a dor que mastigo
mastigo tão incessantemente
é meu orgulho meu troféu

o que me separa entre as feras
ela diz, this is the city, the city of angels and all i see is dead wings.
eu sou o senhor dessa névoa.
o dono desta verdade
e ela não me diz nada que eu não queira.

é assim que me ergo.
afiando as garras nos corpos
levantando como um solo infinito
e como os infindáveis surrurros de mulher

função, destino, necessidade
tudo me faz conforme sou
mas, te digo, jovem, no último segundo
o que diz quem sou é a dor que carrego.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Pré-texto

gente...
gente precisa de pretexto para tudo
ir, ficar, andar, sorrir, flertar, magoar
tudo baseado no tal motivo.

motivo o caráleo (!), assim, bem italianado e com poder do verbo

gente quer ser vista, mimada, acariciada
ser humano é igual qualquer bicho de rua
igual qualquer brinquedo velho
quer atenção

a maldita, eterna e perene atenção
até os ditos solitários, espíritos livres, libertários, hippies, o inferno
querem atenção para sua pequena vida feliz e sem fronteiras
não tem nem como falar que isso é um fato
ou que é alguma coisa

gente é uma amontado de pré-texto
silábico, lírico, sentimental, real
para fazer um punhado de coisas que faria mas não tem coragem
não tem motivo, não tem razão
pode ser preso, pode se magoar, pode magoar alguém, é falta de educação, é falta de caráter

é falta de porra nenhuma
é falta de ser gente!
falta de ser inteligente com a única coisa que faz sentido na sua cabeça
o pensamento

este não é um texto anárquico
nem pré-texto para destruir orelhões ou ler Bakunin
esse não é um verso silábico
nem nada para você encher seu olhos d'água ou o coração do fúria

esse amontado de símbolos
palavras, palavretes, vernáculos
letras, são feitas para mexer com seus etéreos e soluços pensamentos

use seu poder de persuação
seus motivos e vontades todas
e pense
o porque fazer e o por que não fazê-los

quando descobrir que sua mesquinhez restringe-se a egoísmo, puro, nítido e solitário
me pague uma cerveja
e faça valer a minha.

com vossa licença
vou ser humano ali e já volto.