sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Frustração Zen


Aprendi no frio
Nenhuma cousa passa despercebida
Mas perde-se no suor doce da retina
Haikais frustrados
Uma centena de sílabas tortas
descompenssadas e imprecisas


Cadê a beleza dos certos?
As ressacas do tempestuoso mar
mil rachos sob o casco
a Ilíada


Onde estão traços?
Tua boca de fruta roxa
Lugar deu afogar laços

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Plot Twist

Você já teve medo de perder algo que nunca teve? Receio, frio na barriga, calafrio, aperto no peito, taquicardia ou outro qualquer sintoma de angústia? Como diabos se pode perder algo que nunca foi seu, que não tem controle, nem dono, nem aqueles alarmes de carro que você aperta e, na segurança de ouvir o barulhinho que ele faz quando destranca, se sente rei. Pode ser um sintoma da adolescência tardia, pode ser só besteira da minha cabeça, como muitas coisas, de fato, são. Mas é engraçado, dentre muitos defeitos, eu não sou um cara acostumado a sentir medo. Medo de que? Medo faz parte, medo é o aviso do nosso corpo que estamos lidando com algo de suma importância para nós mesmos, nossas vidas.

No fundo, acho que eu não tenho medo. Eu só não gostaria. Pelo menos é isso que eu fico repetindo para mim mesmo. Tentando ponderar as outras possibilidades. Todo movimento é uma possibilidade, é um risco, e é o medo que ajuda a gente a calcular esse tipo de coisa. Inclusive, o medo de perder algo tão etéreo quanto uma jogada de xadrez, um lugar que você gostaria de visitar e não sabe se terá possibilidade, um momento que você gostaria de viver, mas não tem ideia se ele se tornará realidade.

Fica aquele frio na espinha, a constante desconfiança de que um futuro imaginado pode ruir a qualquer momento. Acho que, nestes casos, quem tem mais imaginação sofre um pouquinho mais. Mas o vilão da história também é o algoz do medo. O tempo. Devagar, com ligeireza, corre tranquilo, deslizando em grind pelas ampulhetas cósmicas e transformando tudo em seu caminho. O mano velho dá seus pulos e aí, de duas uma: ou o medo morre, quando o incerto torna-se certo, ou o medo vive, mas de forma diferente, vira um tipo esquisito de saudade. Uma nostalgia do futuro que nunca aconteceu.

A vida tem dessas, vai contorcendo as paradas dentro e fora, como quem faz massa de pão. E, na real, eu não posso dizer que eu não gosto. Mas também não posso dizer que não tenho medo.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Todo torto

As pessoas questionam a minha erudição
há de ser a bermuda, a camiseta amarela com uma girafa e um dinossauro
a barba não há de ser

As pessoas questionam a minha higiene
há de ser a barba, o cabelo desgrenhado
a minha gentileza não há de ser

As pessoas questionam a minha calma
há de ser a minha falta de comprometimento
a minha filosofia de vida não há de ser

As pessoas questionam tudo
e, as vezes, até me fazem questionar
sem razão

Tento não ser escravo das opiniões alheias e, na medida do possível, sou bem sucedido
e posso deixar a minha barba e cabelo do jeito que me apraz
e posso questionar qualquer autoridade que questione o meu jeito de ser
pois sou eu quem rege tudo o que acontece na minha vida

As pessoas continuam questionando tudo
Imaginando tudo
E eu continuo a deixá-las sem resposta

Num mundo de indagadores eu me preocupo em falar menos e fazer mais
E as pessoas questionam meus motivos

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Falso positivo


Poesia é uma amante descabida
ingrata
Não bate à porta
Entra
bagunça todas as minhas coisas
escancara as portas dos armários
joga meus livros no chão
grita como uma psicótica
e me chama a minha cama, entre roupas e papéis
me chama para entrar dentro dela
sem nenhum resquício da fúria que fez ao chegar, há pouco
ela é assim,
poesia

desvairada e incorreta
é como quando você se perde, andando no metrô, e alguma coisa te lembra outra coisa completamente diferente
te lembra uma pessoa, um show qualquer, uma música do Red Hot
aí vem aquela voz
suspiro quente na minha nuca
- escreve, galego, escreve!

Sou rebelde
rompedor de correntes
insurreitoso de botequim
protesto
seguro
dá nada.
danada, lá vem ela novamente

comendo meus dedos, meu pulso
uma língua de ferro quente
um tamborilar sem perceber
de repente, é como se alguém me tomasse pelo braço

escreve, desgraçado, escreve!
E eu não falo desgraça aqui em casa.
Acho palavra muito forte

Aí ela sobe, uma kundalini poética
vooommmm, vupt!
tá na minha nuca de novo
rasgando para os lados como um tigre atacando uma jugular
eu sinto ela dançar
sinto ela ir me puxando para dentro
para fora
para dentro
para fora

Aí ela me deixa ver que eu tô na minha cama de novo
sofrendo de coito interrompido no meio das folhas e gibis
o vento frio bate na minha cara e eu olho o quintal
- Filha da puta!
nem para se despedir

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Vontades

Eu só queria te dizer, te ligar, te falar, que eu nunca senti tanta saudade, tanta falta de algo na minha vida. E eu não consigo nem explicar o quanto eu te amo. \\//

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Bifrost

Como ainda não escrevi sobre isso?
Como ainda não escrevi.

Dei o passo, mãe.
Dei o passo. Sou só eu. Eu e a noite escura, cheia ou não de terrores.

Quanto lágrima ainda tem guardada aqui, mãe.
Não sei, não. Não sei te dizer. Não acho que é mágoa, é só tristeza. Coisa de criança.

Como o tempo passa, né, mãe.
Como a vida vai levando a gente.

Não sei bem onde cheguei não. Tô bem. As vezes acho que tô bem, as vezes acho que tô mal. Faz parte, mãe, faz parte.

Aprendi tudo? Será? Trabalhar tanto, trabalhar muito. Trabalho, trabalho, trabalho. Tô ficando mais próximo dele ou ficando mais longe de mim, mãe.

Quanto tempo que eu não escrevo. Que não sai um verso dessa língua seca. Pensei naquele poema de muitas vidas outro dia. Mas faz tanto tempo, já tô perdendo o tato.

"Tem coisas que aconteceram faz tanto tempo
que parece que foi em outra vida. Com outra pessoa, outro você. Mas aí um cheiro, uma lembrança de leva de volta, e de repente é como se tudo não passasse de um filme. Que maus atores somos nós"

Não era bem assim. Mas memória nunca foi o forte. Cruzei. E agora. Cruzar os outros e cruzar, zarpar. Viver a existência assim, nesse barco de sonhos.

Agradeço todo dia, mãe. Pelo meu dia-a-dia, pela minha vida, por minha família, meus amores, você. Porque eu sei reconhecer que o presente é o maior presente da vida. Com o perdão da piada ruim.

Tô sozinho não, mãe. Tem meu irmão aí, meus irmãos. Que abraço bom, de amor, de carinho. Vai ser um bom homem, mãe. Vou cuidar dele. Pode ter certeza, vou cuidar com a minha vida, como você fez conosco.

Não tenho mais medo de E.T, não tenho medo de nada, mãe. De escravidão, de morte. A loucura ainda me assusta, mãe. Mas eu não vou enlouquecer, não, mãe. Meu coração é forte demais, mãe. Bate-bate-bate. Vai me guiar sempre. Regular meu passo, mostrar o caminho, e vou agradecendo. Vou vivendo as pequenas coisas mãe. Quero dar valor. Usar o que eu aprendi.

perdoa se te desapontei mãe. perdoa se te desapontei pai. Amo vocês.

Dei o passo, mãe. Faz uma semana, um mês, 10 anos que dei o passo, mãe. E não me arrependo não. Era meu caminho. Era pra ser, tá sendo. Vou ser o Corto Maltese. Vou ser melhor que ele, mãe. Vou ser melhor que ele.

O mundo é meu quintal mãe, vou fazer valer cada lágrima que você derramou. A vida que você dedicou para nós criar. Todas, todas as horas de trabalho do pai. Que nada nunca me faltou. Sou guerreiro, mãe. Vou vencer.

Uns dizem que eu tenho sorte, mãe. Pode ser, sempre se precisa de um pouco de sorte. Mas eu sei que não é só isso, não. Tá no sangue, mãe. Tá escrito na wyrd.

Se alguma coisa mudar, se tudo mudar. Se alguém fizer a viagem. Quem fica canta a canção. Segura a saudade. Toca a bola. E agradece. O presente é nosso maior presente, mãe.

Minha vida é meu maior presente. É só é minha graças à vocês.

Muito obrigado. Hora de enxugar lágrima, ir dormir. Trabalhar. Tá na hora mãe, e eu já dei o primeiro passo.

Obrigado por abrir a porta, por me deixar entrar. E sair. Vou ali, vou vencer e já volto.

o sangue é forte, a árvore é firme.
o amor eterno e o lobo é só.

Sou eu.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Não nasci para ser escritor

Não nasci para ser escritor. Sou privado destas nuâncias de citações escalafobêticas de gente que já morreu, dessa misan cêne toda (ia escrever savoir affair, mas como não sei o que este último quer dizer troquei para misan cêne, que dá na mesmissíma coisa), desse jeito rococô e de títulos como cronista, avaliador e sinceras críticas sem pretensão.

Talvez me falte também a organização e disciplina necessárias à função, mas como essas duas seriam falhas minhas e não nenhum exemplo do meu status de “comosoubacana” vou deixar estas de lado.

Eu não deveria ter muita moral para criticar nada, afinal, sou dono de quê? Dois blogs meio nefastos com textos que tem mais erros de português do palavras, dois livros-revista que escrevi para a Escala a custo de nada, com marmitas nem tão recheadas e um editor o tanto quanto chato, merecedor de murros, e muitos, em sua porquíssima face esquelética. Não te esqueci não, paguá.

Ahn, claro, não posso esquecer também da irremedável cobertura entreto-jornalística de alguns reality shows de uma emissora de primeira (e um da, de fato, emissora de primeira). Uma parte de mim diz que não deveria ser tão ruim assim, mas sabe como é, ambição tem esse quê de sucrilhos.

Ou se come com leite ou não se come direito. Sucrilhos seco? Seu filhinho de vó. Revolucionário de condomínio fechado. Filho único.

Sou assim, tenho rompantes e quem não os tiver que atire o primeiro baluarte no meu teto. Zinco. Será que teria eu, também, oras, pois, por que não, telhas Tigre. Turma sagaz para propagandas, hein? clap. Clap. clap.

Enfim, senhores, estamos aqui, em um hotel, longe de casa, com os ecos de um 0x0 entre Corinthians e Santos e nem de futebol eu gosto. Mas, como narra mal este Cléber Machado, hein? Deus me salve. Pronto. Mute. Tudo é belo novamente.

Enfim, voltando lá ao trezeguet que eu soltei no começo, acho que não nasci para ser escritor, editor e coisas desse tipo. O problema é que eu encafifei com a dita ideia e ela não me sai da cabeça nem com banho de gasolina. Hei de vencer pela teimosia, esta. Graças, desde criança eu tenho de sobra.

Vamos então teimosiar a vida, porque, se no fim, bater as botas assim de escanteio, me esgarranchar antes que o buraco negro sugue destas bandas toda a vida, vou poder dizer, olha, posso não ter sido o escrevinhador mais sagaz do mundo, mas, vá lá, se não fui o mais teimoso.

Isso deveria era valer prêmio. Vale-refeição, sei lá. Enfim, tamos que tamos. Olha lá o impedimento irregular. Na dúvida, é sempre melhor arriscar.