quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Cosmic Warhog

Júpiter não se contentava com os olhos de um planeta que não podia ver. Espremia a visão pela lente dos instrumentos e nada o saciava. Sedimentos caiam do teto, continua e sinceramente, como algo que pede desculpas por incomodar. Haveria de descobrir de uma vez por todas o que estava acontecendo. O cometa aonde encontrava-se a sua in-torre, rodopiava sem destino. Desceu as escadas, e a gravidade se inverteu. Continou subindo as escadas, que vinha descendo, e chegou a uma sala ampla.

Seus cabelos tinham duas cores. Castanhos escuros como o âmbar e um laranja, entre o violeta e a violência. Amarrava-os de tal maneira por sobre a cabeça que eles pareciam estar sempre atentos, uma cauda de cabelos vigilantes. O rosto era angulado e liso. Uma capa de alta gola azul por sobre um casaco comprido, que mais parecia um roupão. Nas mãos anéis sobre ataduras e ataduras sobre marcas, como tatuagens. No peito, reluzia o peso de talismãs, rodas, chaves e formas de uma geometria sabida só à ele. Não havia pés, ou uma porção na parte debaixo do corpo, só as roupas compridas, penduradas a arrastar a poeira que insistia em cair do chão, em sentido ao teto.

Valamaris, seu irmão, chegou. Entrou. Sua presença fez o cometa entristecer. Ele corria com as palavras e as estrelas se enchiam de mágoa ao ve-lô. Era austero e coberto de toda sorte de peles de animais e outras coisas que não ele. Seus olhos fundos, velozes, fitavam, e as pessoas que os olhavam, não acordavam mais. Seus pés, descalço sob o solo, tinham 5 dedos. Suas pernas eram rajadas como listras, e sob a cabeça uma enorme ondulação, em forma de crista, descia até a nuca. Ele amarrava os cabelos negros de tal forma por sobre detrás da cabeça, que eles pareciam uma longa cauda. E seu cabelo era comprido como um anel de asteroides.

E Valamaris falou com Júpiter.

- Não te asseguro nada. Pois, a mim só cabe correr.

Júpiter pensou no que seu irmão falava. E, sentido na frase não havia. Não havia sentido nenhum. Então, ele, que se arrumava para partir rumo ao planeta que fugia da sua vista lembrou-se que teria de viajar. E, em um instante, perguntou-se como o faria. E, logo lembrou-se que seu irmão ali estava e levá-lo ele podia. Mas, a viagem haveria de ser perigosa. Deveria então, perguntar a Valamaris, o velocista, o que achava. Mas, lembrou-se da frase do seu irmão. E descobriu que poderia ir, sem qualquer garantia. E percebeu então, que era ele também um velocista no pensamento e na audácia.

Júpiter não falava, pois sua voz estremecia os planetas e fazia as dimensões mudarem de lugar. Então, chamou Posha-loo, pois, cabia a ele falar. E Posha-loo subiu as escadas e depois desceu, e chegou a sala mais vasta e ao ver Valamaris, abaixou as orelhas como quem diz que há ter visto Valamaris. Posha-loo tinha uma pele espessa, de tom rosáceo e um nariz curto e com três narinas, e também tinha três olhos, emparelhados no campo de visão. E também tinha quatro braços, e duas caudas torcidas e enroladas. E era grande como um pequeno planeta, mas, seu corpo era de tal maneira impressionante que caberia até no espaço de uma pequena colher se, assim o desajasse. E ele disse a Valamaris.

- Júpiter que vai descer ao mundo além da vista.

Veio Valamaris e tocou nos ombros do irmão, e como uma explosão silenciosa e tão forte e rápida que até mesmo a realidade demora a encontrá-la, eles sumiram. Um grande estrondo estremeceu a asteróide da in-torre. E ele, de tristeza, pois os celestes se enchem de mágoa ao ver Valamaris, o corredor, rachou-se. E Posha-loo voltou-se para a lacuna de onde viera e sorriu.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

19:17

ecoou como o Shadhishivartha
quem é você?

ecoou como o Shadhishivartha.
como o Unabomber.
como todos os vincos nas dobras de páginas.

ecoou.

e me precipitei-me.
como um khazad-dum.
e cai eternamente.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Galo das seis e meia, ou duas e quatro.

enquanto todos dormem, eu escrevo
porque é melhor assim
minhas idéias turbulentas não correm o risco de poluir os seus sonhos
e meus sonhos palavreados não correm o risco de serem poluídos por suas idéias barulhentas

são paulo é uma cidade de vermes
mas, não contei ainda, por isso ninguém sabe
não vermes de cadáver
vermes que consomem, engordam, são cegos, gulosos, famintos, feios, não olham para o céu
São Paulo é linda
a nova yorque do terceiro mundo com o perdão gramatical bem concedido

é a carta de alforria para uma infinidade de vidas
é o poço descabido de balde para uma avalanche de nomes

agora, enquanto uma grande porção dorme
eu escrevo
porque é esse mundo que as palavras habitam
porque, elas não são mudas, como hão de pensar

são sonoras, chatinhas, bobagentas
mas, adoram companhia e café
algumas tem um ar blasé, como ferrorama
outras, como listrado, simplesmente gostam de aparecer
mas, fato, corrente, elo e grilhão, estão sempre aí

elas brincam comigo se eu brincar com elas
o que é justo, é justo
é a lei dos Deuses

até agora, eu tinha lido uns versos que diziam assim:
"Esmagar o mundo com as sandálias calçadas sob seus pés"
faço isso tudo ao contrário
"Desesmago a unidade sem as palavras descalçadas abaixo de minhas mãos"
bonito, né?

isso não é um poema
embora pareça
e também não é um texto
embora pareça

lembrei de outra frase.
Raul, o Seixas, aquele que pedem para tocar:
"Se é mel, não posso afirmar com toda certeza, que parece mel, tem cheiro de mel e gosto de mel, isso eu posso afirmar"
Já reparou como todo mundo olha TV
ninguém assiste a TV
que você faz? perguntam
to assistindo TV
não, tá olhando a TV
no máximo, assiste a vida passar entre os comerciais

entende?

careço de uma falta de compreensão profunda
entende, isso não é uma cilada silábica, é sinceridade injetada numa construção
é, realmente uma cidade de vermes
zumbis, sonâmbulos.

salvem-se todos.
lembrei de trezentos filósofos agora.
não os de Esparta, mas, pelo menos de dois gregos
sócrates e Platão.
e as caixas altas e baixas são propositais
as
vezes
como agora, eu provo que sou mais inteligente do que pareço

porque pareço ser um completo idiota
uma anta de galochas
mas, não sou.
sinto muito

Os deuses forjaram meu espírito assim
livre
montador
desmontador
uno e vuno
tal qual mundos e fundos
que, no momento, não disponho.

uma triste conclusão de neurônios.
sabe o que me faz perder a cabeça?
as mulheres.

é tão prazeroso assim para vocês pensar nas mulheres? ou nos homens? ou vice e versa?
para mim é.
e não é sexual, latente, lascivo, embora, as vezes seja
é natural, enigmático, envolvente.

hmmm... como sinto prazer em pensar nas mulheres
hoje, uma lótus no metrô
ou um sorriso sincero a distância
amanhã, o mundo
uma dimensão

não é a toa que o Conan tem aquela cara, sabia?
Ele é Cimério. Deflorava mulheres como quem come de talher
E comia com as mãos. Em ambos os casos.

Poesia é uma arte.
isso, isso é um amontado de palavras.
poupe seu tempo preocupando-se com você.

Me diz, quantos anos você tem?
O que faz da vida?
O que quer realmente fazer?

Se tivessemos uma régua estariamos todos, sempre, na mesma distância de obter nossos sonhos
pensa bem, seus maiores sonhos
agora, pensa nos maiores sonhos da sua irmã, melhor amiga, avó, ex-namorado, detento do carandiru
pega uma régua imaginária,
mede.

viu?
mesma distância.

hoje em dia, ninguém se preocupa mais em decifrar as coisas
sejam as mulheres
o dia, as nuvems, as pessoas, ou as palavras
ninguém decifra nem a si mesmo

eu me permito tentar
minha esfínge pessoal adora me pregar peças
mas, como as palavras, o que é justo é justo.

Qual a distância dos seus maiores sonhos? De coração...
E, o que é justo para você?

Viu. Entendeu agora, né?
São Paulo é uma cidade de vermes.
não por injustiça, imposição social, temporal ou cultural.

é falta de olhar para o céu.
ou no peito
e se encantar com as estrelas.

Não sou de falar de sentimentos
mas, eu amo certas coisas.
como a incrível habilidade de se fascinar.
amo, e sinto um incrível prazer.

como faço ao brincar com as palavras
ao pensar sobre as mulheres.

Enquanto eu escrevo
todo mundo dorme.
Será que alguém abre o olho porque o dia raia?
não.

Viu?
Você é mais esperto do que parece.
Boa sorte, você vai precisar.

Olha, não esquece a régua.
não esquece o sonho.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Diáspora



é um conjunto de coisas
é vontade
falta de explicação
acontecimentos e não acontecimentos
é necessidade de explicação
e falta de um conjunto de coisas
não sem mede
não se entende
não se pede
se tem ou não
se confia
e se resigna
sabendo que existem males que vem para bem

ainda não perdi os dedos
a esperança devastadora de um único homem
vou, sim, porque, a estrada brilha com meu nome por entre os montes
mas, volto, com novidades para cantar
com canções maiores e mais belas
vivo
e com fé
e com todas essas coisas abstratas que não se entende, não se explica
se crê
no amor, no universo, na música
em você
e, em mim mesmo.

até breve.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Firaga Blizzaga e Acordeon

Hoje minha banda predileta de outro país faz show em São Paulo.
eu não vou.
já fui.
Foi um dos melhores shows da minha vida.
sozinho, dancei e pulei e gritei tanto que no final, cai exausto no show. Levantei só uns 10 minutos depois que a galera tinha começado a ir embora.
Amo a música que eles fazem.
Mas, no momento, não disponho da módica quantia de 60 reais e uma lata de leite em pó para apreciar o show.
Gostaria de entrevistar Eugene, que, além de grande frontman é um dos meus ídolos. O cara fugiu de Chernobyl com 13 anos e, passando por trocentos lugares ao redor do mundo, sobreviveu. E sobrevive, e faz o que gosta e vive disso.
Um puta ucraniano gente fina!
Mas, tem coisas e coisas na vida. Algumas a gente pode fazer, outras, infelizmente, não pode.
Eu não posso fazer uma viagem cruzando todos os estados do Brasil.
Não posso cruzar todas as fronteiras dos países, se eu decidir desembarcar na França e seguir de moto até Bangladesh.
Não posso escrever meus textos e viver pura e simplesmente disso.
Não posso convencer todas as pessoas do mundo, ou da linha verde do metrô, que cara feia não leva a nada e que seria muito melhor começar o dia bem, disposto a conversar e conhecer gente nova.
Não posso tomar sol quando está calor.
Ou chuva quando chove.
Não posso assistir aulas na Escola Livre de Cinema, no MIT ou na Universidade Federal de Santa Catarina, simplesmente porque gosto de determinado assunto.
Não posso andar armado com armas brancas não letais com lâminas maiores de 10 cm.
Não posso comer o meat balls do Subway sem ficar com azia.
Tem coisas nessa vida que a gente pode e coisas que não pode fazer. E isso, pra te dizer a real, really sucks!
O Gogol vai voltar outras vezes, porque o Eugene adora o Brasil.
Eu ainda vou ganhar dinheiro suficiente para realizar todas as outras vontades, sem ter qualquer tipo de problema.
O lanche do Subway eu vou continuar comendo, mesmo ficando com azia, porque azia não mata e se matasse, morria, ao menos, de barriga cheia.
Já as pessoas emburradas da linha verde do metrô e do mundo, bem, não se pode ter tudo.
Quem sabe daqui a muitas encarnações os espíritos sejam mais livres, como os pensamentos são, e neste claustro de observar, pensar, agir e fazer, realizar seja o verbo de ação. Realizar.
Intransferível como bilhete único.
Poderoso como uma chuva às 18h em São Paulo.
E meu reino, todo ele, por um centavo de mulher.
"I bet you look good on the dancefloor..."

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

dia 1 tomada 22, claquete, ação!

hoje eu faço aniversário.
aniversário é bom, porque a gente chega a um monte de conclusões e faz mas um monte de coisa na cabeça.
cheguei a várias conclusões.
a primeira é que sou importante para as pessoas na mesma proporção que as pessoas são importantes para mim.
quem gosta muito de mim me ligou.
quem não pode ligar, mandou mensagem.
uns até reclamaram da falta de abraço.
quem não pode reclamar, só deu parabéns.

ganhei poucos, mas, bons presentes.
fiquei muito feliz com todos eles.
pelo que as pessoas desejam e falam de mim, descobri muitas coisas.
devo ser um cara legal, embora um pouco idiota.
falaram do meu sorriso e, eu nem sorrir sei, devem haver de ter confundido com a risada.
pelos meus dotes culinários e beberísticos, brigadeiro, doce, conhaque e cerveja devem estar facilmente associados a minha figura. mesa farta!
deve ser alguma coisa no meu cabelo, ou as mulheres começaram a me achar mais interessante?

quanto mais sinto saudades dos meus irmãos, mais eles importam na minha vida.
todo vez que falo obrigado, falo de coração.

e, o mais importante, o importante mesmo, é ser feliz e amar a vida.
porque em gratidão, ela vai te amar de volta. e, quando a vida te ama, é como se você fizesse aniversário.
ainda não dormi, então, ainda estou no primeiro dia desse novo ciclo.

tenho um pedido a fazer.
tenho tantos.
mas, vou pedir um, que, eu acho que vai ser bom.
é uma coisa que eu quero e vai me deixar feliz.
de, resto, é só repetir o que eu mais disse nesse dia, e, provavelmente, vou dizer em todos os dias que ficar feliz como estou agora.
obrigado.

sábado, 31 de outubro de 2009

Colher de pau

aprender me deixa feliz
ler me deixa feliz
tardes de sol me deixam feliz
ficar sozinho me deixa feliz
companhia me deixa feliz

fiquei tão feliz que vou fazer um brigadeiro
quer uma colheradinha?
clica ali no botãozinho de comentários
diz que passou aqui

talvez não possa partilhar o brigadeiro
porque ele é bom.
eu gosto muito
e acaba rápido

mas, não se preocupe
pego uma colherada bem cheia de felicidade
para dar para você!

porque tem dia que eu descubro coisas sobre mim
que eu me leio em versos e cílios
que eu me encontro em raios e reatores da lâmpada da cozinha
e, na minha pequenez, isso me deixa feliz.

e pouca coisa me deixa mais feliz do que um montão de brigadeiro
oba!

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Piloeira

desses dons do café
dessa pele mocaccino
desse latte, leche, liberdad

aquela vontade de te mastigar
de sentir teu corpo morno, quentinho
a fumaça saindo da caneca
e aquele lugar estratégicamente colocado entre a orelha e o pescoço.

sabe, quando eu tomo muita coca e vejo tudo tremendo?
e não consigo ficar parado.
e não consigo parar de pensar.

você é uma coca, com potência de expresso e sabor de chocolate.
me deixa vendo tudo tremendo.
não consigo ficar parado.
não consigo parar de pensar.

seus tons.
porque você é colorida.
e sua meia risada, aquela que você começa e termina com um sorriso.

sua pele é como a espuma de sorver aos poucos
de deixar escorregar sob os lábios
de sabor suave, leve.

esse corpo de montanhas espanholas.
ibéricas.
portuguesas, claro.

tudo culpa daquela mantinha.
que chamo de nossa, mais por possessão que por qualquer outro motivo.

e da minha mente.
que abriga toda a sorte de fantasias.
que você folheia, folheia e deixa permear seus pensamentos, sem querer.

sua única indagação, nem mais me preocupa.
porque, essas coisas não me preocupam.
já construi tudo, aqui dentro da cabeça.

como em um bom café quentinho nos dias de ficar em casa.
me acorda, e também me faz adormecer.
entre cor, sabor e temperatura.
mais de pó ou de grão, tens tudo.

és minha fruta favorita.
cheira a café da manhã.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Memória musical olfativa

Para variar ia escrever outro texto.
Outra coisa. Estava quase terminando. Aí, Bam!Kapow!Splash!Pow!

sonhei com você novamente
e, os deuses sabem como eu entendo de sonhos.

porque, vou te contar um segredo, sonhos não são o que as pessoas pensam que são
são o que as outras pessoas pensam sobre os sonhos.

e aí, aparece você, toda libidinosa e com aquele sorriso que, deus, derreteria o gelo do whiskey.
aquelas mãos que, pelas barbas do velho, parariam uma guerra. chamariam um ônibus, estourariam o estopim de qualquer TNT, bomba nuclear, bandinha de rock para garotas.

que eu faço contigo, me diz?
queria poder desdobrar seus sentimentos pra te dizer, é assim, honey, é a vida, é desse jeito que é, e você sente, isso, isso e isso.

mas, não, se não me deixa.
nem entrar nem sair. fico na soleira da porta, treinando malabares.

até o diabo decorou o cheiro dos teus cabelos.
eu sou só um homem.
versado em certas coisas, idiota em todas as outras, mas, poupe-me dessa prosopéia sentimental.

e me diz, porque você insiste tanto em habitar os meus sonhos?
é teu desejo de se firmar na minha vida, de me deixar entrar e deitar no sofá para ver desenho, como fazíamos quando o sol ficava nublado.
ou é outra coisa. outro diabo de coisa. diabo de cheiro. dos seus cabelos.

e não é só as músicas. porque também tem elas.
guanabatz. sabe? não é só rockabilly, porque, nem disso você gosta.
não é só os favores que você faz para mim, e, que, poxa vida, você nem sabe que nem para mim são.

é algo tão enraizado nesses seus olhos, que vem com aquele seu tom de voz. e como você pensa e mexe nos cabelos.
e quando você me abraça.

não é paixão.
porque de paixão eu estou farto e, sei muito bem identificar os sintomas. doença que se pega mais de uma vez. dois golpes no mesmo cavaleiro de bronze.

é angústia.
uma angústia incessante de te decifrar.
bendita!
uma angústia de te ter na cama ou em qualquer outro lugar. só nós.
é esse cheiro e, deuses sabem como eu quase não sinto cheiros, que impregnou em mim.

cadê você, minha nega.
que eu te chamo e você não vem?
no fundo, no fundo, acho que a ardilosa é você.
que sabe de tudo. que sempre soube.
que me observa desde os tempos que a gente desenhava.

e aí, meio subconscientemente você desenhou essa situação toda.
desenhou para você
e to aqui, tentando ser a pedra roseta.

e aí tudo me diz.
o céu me diz, a salamandra me diz, a serpente me diz, o metrô me diz.
todos os sinais me dizem, falam seu nome.
e você.
você não.

é aquela música do guanabatz. love generator.
queria poder te encontrar em um lugar que não existe mais.
que foi só nosso por 45 minutos, sem você saber.

naquele dia que você viu todas as minhas cicatrizes.
e disse alguma coisa que eu não lembro. mas foi bonita.

queria te pedir também pra trocar de pijama, e vou esvaziar todos os potes de shampoo.
não quero nem saber se são ou não seus.

só para saber de onde vem esse cheiro.
esse maldito cheiro que vem do seu cabelo.
e me faz pensar em você.
mesmo quando você está longe.
e não está nem perto de pensar em mim.

versado em coisa nenhuma.
sou o mesmo idiota de quando te conheci, preta.
o mesmo.
só que a gente já se esqueceu.

me ajuda a lembrar.
e faz como no meu sonho.
me leva para aquela varanda e me mostra porque eu gosto de mulheres como você.

para um amante do mundo.
até que eu não ligo de pousar uma noite.
desde que a cadeira de balanço esteja perto.
e tenha pizza no forno.

se você ler isso um dia.
me ajuda a lembrar.
ou vai ficar tudo meio enevoado, como num sonho, como naquela música do guanabatz.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

nem tente entender dr. jekyl em malibu

falar de dor é complicado
mas eu ouço elvis e plasticines
e surfin music e um groove old school

não melhora em nada
falar de dor é como falar de amor
um infinito de sinônimos vazios
buscando um sentido que nem sempre é seu

nessas horas, eu nem sempre sou eu
nem o conselho de cadeiras velhas no meio do meu peito entra em consenso
é algo fora de sensação, fora desse plano, dentro da minha cabeça
debaixo da minha pele, sobre os meus olhos
entre minhas mãos trémulas

e não é lágrima
não é grito
não é fúria
não é luta
é dor
lastiante
de esmigalhar os ossos
e fazer elvis soar como smiths
e plasticines como qualquer quarteto de cordas ou Stan Getzs
e nem dele eu gosto

mas, a vida é shuflle
para bem ou para mal
e aí, quando aparece alguma canção daquelas que me deixa mal
aquela do tim, aquela do cazuza, qualquer uma do weezer ou o diabo
dói como se eu tivesse injetado fluído de isqueiro nas veias
e, nem de cigarro eu gosto

muito tempo atrás, embora pouquíssima gente saiba
eu fotografava
e era lindo
mas, nunca tive muito dom com o revelador
e minhas obras primas ficavam brancas e estouradas como uma manada de bisões nas colinas da Pangea
e eu as amava em sua imperfeição
embora buscasse sempre o impecável
o pleno, o equilibrio entre as cores
o agradável aos olhos
o bem visto

acho, que no fim é isto
fiquei tempo demais no revelador
estou branco, pálido, estourado como se nenhuma gota de sangue cigano, nórdico, ibérico, corresse nas minhas veias

irônico
meu problema sempre foi me revelar demais
abrir a porta do conselho das cadeiras e dizer
entre, fique a vontade

uma dor infindável que corrói aquela mesa ancestral
de coisas e coisas que nem lembro que fiz
porque, de fato, não era eu.

não é tristesa
nunca fico triste.
acordo cantando.
trabalho sorrindo.
é uma dor.
um dor tão aguda
que me obriga a escrever sobre ela.

ficção ou não
é tão real quanto o blanka ou, sei lá, o maradona
percebe, é um dia sem caixa alta
um dia que eu deveria estar datilografando coisas que você nem imagina na minha hamilton 1910
minha querida

fico pensando
em tanta coisa
mas, é como se o dr.jekyl vivesse em malibu
simplesmente não faz sentido
um episódio de csi onde o sonic é o assassino.
uma vida, de faroeste, sem zumbis, alienígenas, mutantes ou círculos secretos de magia

então, só para fazer você sofrer
vou escrever até os dedos cansarem
é diferente quando sou eu que estou falando
é diferente porque eu tenho as rédeas das coisas
e sou mais forte que uma muralha de pedra
sou um zigurate de zinco com todo o pleonasmo que sua orelha aguenta
sou aquela música das Donnas, you can play my game.
just tell me your name
é como naquele outro poema que escrevi
como nas vezes que meus neurônios vencem por superiodade númerica
a letra diz, i let you play my flipper, if you let me unzip your zipper.
e tenho andado tão emotivo ultimamente que uma letra me faria matar
um solo de guitarra para arrancar a traquéia de alguém
e sei tanta coisa de soldado que pouca gente sabe
sei tanto ponto de veias e artérias principais que os livros de anatomia parecem aquela massinha de conjunto do dr. opera-tudo

mas, esse filha da puta me impede
porque é assim que sou
cósmico como algo que condena o cometa
converso com Galactus de igual para igual
e sei nomear todos os corpos estranhos em órbita de Urza Mayor
aprendi a me guiar pelas estrelas e comer pouco
e você nem imagina como é comer pouco

e aprendi o galador de invocar gigantes
e os espíritos dos que vieram antes de mim atendem as minhas preces
e vejo todos no vale que visito em meus sonhos

e aí vem aquele solo de guitarra de Hunger
e o sabor de incontáveis beijos de mulher
rs.
coral fang, ela canta.
eu te vi cantar.
vi tantas.
não só agora.
me diz, quantos anos foram.
um milhar, uma dezena de milhares
é claro, daí que vem

cada sabor que sinto como uma melodia
como a neve que tem textura e cor
e, ninguém conhece tanto da neve quanto eu
que nunca vi

e as cadeiras rachariam
tombariam como cavalos alvejados pelas longas lanças macedônias
piquetes
e tenho saudades de armas que nunca vi
e dos fios que beijei enquanto dormia coberto de sangue, folhas e ocasionalmente alguns mortos
e até do negrume das balas
que, nem de balas eu gosto

doçura, gentileza
e aquele rosto tão lindo
que seria um impropério dizer que assombra minhas noites
faz mas é por me abençoar
com aquela sua ternura
ai ai.

se tudo isso me fizesse sentir menos dor.
menos dor.

não tomo remédios.
há séculos.
me cuido como dá.
a natureza dá lá seu jeito e vou vivendo enquanto o pulmão deixar.
mas, se quando eu for, o sofrimento espalhar essa dor, que sinto
se Réa não a quiser em seu leito e a disseminar sobre a terra
poupe, querida dor
aqueles que amo
por não saberem o que sinto
mas, por se esforçarem tanto, tanto em saber.

acho que no fim.
somos só eu e você.
sempre foi não é, nos três.
minha amada dor e a belíssima solidão.

e mesmo quando a escuridão vem fazer companhia
somos orgulhosos demais para ela.
e não me deixe, dor querida.
és tudo que tenho.

de lamúria a súplica.
é claro que já usurpaste minha sanidade
deixa ao menos, as palavras que me compõem
que não são só minhas
e que, jamais, serão suas.

a verdade está escondida em todas as flores
em cada instante que visito o céu em um rosto desconhecido
em cada oração de mãos calejadas para esse deus de tolos
em cada pomar que não dá frutos, mas que germina uma infinidade de cores

nem toda uva dá bom vinho
nem toda colheita bom azeite
nem toda solidão é um martírio
nem toda dor é um deleite
nem toda ficção é abstrata
nem toda ilusão desfoca a mente
corram todos enquanto é tempo
a dor faz os lobos mostrarem os dentes

eriçarem o pelo
correrem na mata
a dor que mastigo
mastigo tão incessantemente
é meu orgulho meu troféu

o que me separa entre as feras
ela diz, this is the city, the city of angels and all i see is dead wings.
eu sou o senhor dessa névoa.
o dono desta verdade
e ela não me diz nada que eu não queira.

é assim que me ergo.
afiando as garras nos corpos
levantando como um solo infinito
e como os infindáveis surrurros de mulher

função, destino, necessidade
tudo me faz conforme sou
mas, te digo, jovem, no último segundo
o que diz quem sou é a dor que carrego.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Pré-texto

gente...
gente precisa de pretexto para tudo
ir, ficar, andar, sorrir, flertar, magoar
tudo baseado no tal motivo.

motivo o caráleo (!), assim, bem italianado e com poder do verbo

gente quer ser vista, mimada, acariciada
ser humano é igual qualquer bicho de rua
igual qualquer brinquedo velho
quer atenção

a maldita, eterna e perene atenção
até os ditos solitários, espíritos livres, libertários, hippies, o inferno
querem atenção para sua pequena vida feliz e sem fronteiras
não tem nem como falar que isso é um fato
ou que é alguma coisa

gente é uma amontado de pré-texto
silábico, lírico, sentimental, real
para fazer um punhado de coisas que faria mas não tem coragem
não tem motivo, não tem razão
pode ser preso, pode se magoar, pode magoar alguém, é falta de educação, é falta de caráter

é falta de porra nenhuma
é falta de ser gente!
falta de ser inteligente com a única coisa que faz sentido na sua cabeça
o pensamento

este não é um texto anárquico
nem pré-texto para destruir orelhões ou ler Bakunin
esse não é um verso silábico
nem nada para você encher seu olhos d'água ou o coração do fúria

esse amontado de símbolos
palavras, palavretes, vernáculos
letras, são feitas para mexer com seus etéreos e soluços pensamentos

use seu poder de persuação
seus motivos e vontades todas
e pense
o porque fazer e o por que não fazê-los

quando descobrir que sua mesquinhez restringe-se a egoísmo, puro, nítido e solitário
me pague uma cerveja
e faça valer a minha.

com vossa licença
vou ser humano ali e já volto.

sábado, 26 de setembro de 2009

Bumerangue Boa noite.

não tô
levei minha alma para passear
se foi
perdi como balões na chuva
chá sem açúcar de um templo qualquer

e em todo tempo
chorei
como criança que perde ou que não quer
hesitei
acovardei-me
só fiz o que era certo faltando duas para o segundo tempo

duas mortes
duas vidas,
duas vias

hoje eu to ouvindo aquela música.
e tomando um porre homérico de guaraná zero.
e, eu odeio guaraná zero.

então, se me chamarem
pede para ler o post it
ele não diz nada
porque é só papel
e se perguntarem
peça para enxergar o rosto cansado
que não diz nada, porque é só carne
e quando sentirem, busque apoio
pois na falta da alma
não há chão que resista.


o refrão diz:
"espero o vento apagar..."

domingo, 13 de setembro de 2009

Minha tatuagem

não era esse
era outro
que vinha em seu lugar

mas que vida
era aquela
e você não soube esperar

1 bilhão de chineses
e você ainda sem jantar
esqueça os filmes franceses
ache as figuras de colar

um imenso ligue-pontos
de acácia e acaso
um imenso disse não disse
de flores lindas e de vasos

pilhas e mais pilhas de gibis
horas de jogo
em quadra, suado

pés, e bolhas e
broncas
e os ouvidos molhados

um pensar quase eloquente
de uma força que derruba a gente
irritação quase vadia
de um tarde sem companhia

que belo sol
incandescente
num caduceu imponente
sem importância ou enfeite
sem Deus nem Deleite

uma prateleira de filmes para adultos
e diversas indicações de filmes para crianças
recomendações para não andar sem camiseta
proibições de alimentos nessas circunstâncias

uma mistura de cocas e tiros
e sabor de conhaque barato
muita, muita cevada
parmegiana para lavar o prato

não é confusão
é um além de clareza dos fatos
também não é tristesa
é um relance
como um cavalo num salto

nunca foi tanta natureza
grutas, cascatas e tudo abaixo
nunca foi tanta proeza
nem nos idos 16, claro

tinha um livro em branco
ganhado de presente
uns pensamentos tortos
um peito batido ritmicamente
uma sociedade de tolos
e tolice o suficiente
para escrever uns versos soltos
e dizer que estou indo em frente
não que isso seja verdade
ou que a mentira seja diferente
é tudo questão de vontade
inspiração e olhar sereno

a paz de espírito que eu tanto busco
continua enfurnada num oceano de teias
a paz de espírito que tanto eu busco
continua conduzida por vozes na areia
a paz e o espírito, que eu tanto busco
continuam reversas as sombras da luz
como cego em um jogo de espelhos

minhas canções
tem partes das suas músicas
meus pensamentos
um cheiro que me lembra você
os seus diversos vocês
muitas vezes me lembram a mim mesmo
minha gramática sem qualquer porquês
está escrita sob rasuras e erros
e meu destino de caminhar sozinho

é a maior dádiva
das maldições que criei primeiro
os outros defeitos todos
que tracei
alma
eu te digo
devorarei inteiro

como um esquadrão de homens suicidas
sou tão voraz
quanto o sol de janeiro

profundezas?
sou uma fenda austral
tentando tocar as pontas
de mim mesmo
quietude
não é desapego

ele me disse, quando criança
siga sempre o caminho do meio
é o Boddidharma, Boddishivata
é a encarnação de um primevo
um Elohim, meu Mahabarahta.

meu mastigar
ósseo
férreo
um magnetismo
mental

credo
nada mais comum
do que um final
começou 1
eram dois
agora
é zero

é um ciclo
é como quando dá fome
é como quando se espera

eu, ruminante
conjunto finito
minha tatuagem
é o meu mistério.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

alt f5 alt f5 alt f5 divagações de Godammit las hay e punto. f5

Como é?
Perguntavam ao garoto.
Para ele era um misto de doce de abóbora da vó e steady as she goes do raconteurs
sempre dizia para mim mesmo que era a melhor coisa que Jack White fez desde Seven Nation Army
era como aquele gibi do Lanterna, com toda a qualidade de cores, como a tropa alpha sem o estrela polar
as vezes, um sabre de luz desligado. um sabre de luz laranja.
um pedaço da guia da calçada, cheio de chiclete velhos e pegadas de baratas
eram duas partidas de street fighter 2, com a chun li ou o guile. sem essa história de especiais.
eram beijos tão doces que fariam qualquer velhinha diabética desmaiar a um quarteirão de distância
eram piadas engraçadas como aquelas da Phoebe.
de noite, era como ver uma mensagem inesperada do celular
ou era como depois daquele jogo do basquete no colegial, que eu fiz duas cestas de 3
também tinha shang tsung.
as vezes era alto como um rochedo
como um dromedálio que escapou das asas do Roca e acometeou as areias do deserto
era como um daqueles contos incríveis do Bill Willingham.
não era um livro do foucalt mas era um nietszche nos cafés da manhã
como um cookie
já sei.
era suave e saboroso como um hot roll
era aquele primeiro grande livro do Fernando Sabino.
era um carro de vidros fechados e uma tentativa fútil de desatar o cinto
se esse garoto
esse aí, do doce de abóbora
andasse e desce voltas
ele teria uma camiseta roxa do King of All Cosmos e um moleton velho de capuz, uma jaquete de hell's angels
anéis. da tropa, de escorpião, do valknut
unhas assim, curtas, mas, meio pretas.
mão sem calos
braço finos e algumas cicatrizes
uns cabelos meio cacheados meio crespos meio cinzas
um par de olhos de multiverso
e um par de dimensões paralelas de ouvidos
e um diabo de palavras entre a nuca e o pescoço
não teria bigode, só uma barba rala.
porque a maquininha, é legal de passar no número 1.
e vestiria jeans
e um all star preto
e não teria moto ou carro
ou um lobo atroz de cela ou uma bicicleta
escolha simples
e um punhado de acessórios de fazer inventário de diablo ou WoW parecer brincadeira de jardim da infância

e uns livros na mochila
para escalar o conhecimento
e uns fones de ouvidos desligados
porque eu quero mesmo é ouvir o mundo.

como era, perguntaram ao garoto?

era muito alanis, um pouco de shakira e uns Skas que é um ritmo oprimido
o meio irmão do rock, só se deu bem por causa do sax.
era um violão bonito, que escolhi com carinho, num dia de sol na Teodoro.

era a feirinha da Benedito que nunca fui.
mas eram todos os tiros de nave de star wars.
todos.
com explosões e tudo.
eram todos os surrurros que vem do lugar aonde vão parar as tampas de caneta bic
tantos manos que parecia um baile funk na rocinha
era um despredimento.
como se fosse de fato normal separar o mar com as mãos
meus gibis da marvel, empoeirando aqui.

como era garoto?

era como um sonho que se vive.
mas, aí, acordei, meio zumbi. imbuído de meia vida.
Eu era um Solomon Grundy de pessoa. e minha Zatana. não esperava por mim no próximo quadro.

era como meus desenhos
que conversam comigo eternamente da gaveta
ou da minha cabeça

era como tomar uma com os deuses
sem jogar um pouquinho para eles.
o que eu deveria fazer? atirar o conteúdo da taça na face daquele que me abriga em seu coração?


era minha morada do alto
inspiração
era como saber de um segredo sem que ninguém ouvesse contado e, ainda assim, sem descobrir

como era?
perguntavam ao garoto
e ele então, abriu os olhos
questionou-se sobre a luz forte
enxergou um vulto de rostos e formas, e disse:
Já passou?

já.
alguém esteve aqui.
e fecharam a porta.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Ignição

Ritmo e velocidade
Nas longínquas tramas dançantes
Ou na rota quente do asfalto da cidade
Entre toneladas de concreto aquecido
Entre frios e penosos olhares
Naquela paisagem deslumbrante entra as montanhas
Nas trilhas, perdidas, exóticas, estranhas
Ou no meu emaranhado de vontades

Não sou desses fãs de motores
Mas, apóio de todo peito essa desventura de sabores
O amarelo de amor, o verde de esbravejar, o perseguir
Almejar, alcançar
Poucas, pouquíssimas pessoas partilham
Essa minha vontade de viver a vida

A gana de engolir os momentos em largas doses
Para não perder um segundo da maratona divina
Para bater a cabeça e aprender errando
E para me sufocar num mar de cabelos, suor ou pranto
Então, quando eu passo, tudo soa assim, silencioso
E desfocado

Como borrões no pára-brisa
Reflexos de um dia nublado
Viver num mar de cinza, num “gran pri” de curvas certas
Não importa a quantidade, tudo foge, seca.

Nada de óculos bacana de piloto
Como o Rei no calhambeque
Nada que me salte aos olhos
Que me instiga
Que me merece.

Fico, aqui pensando, se é um dom acelerado
Uma força centrípeta distorcida
Se é alguma cousa estranha
Ou puro olhar alienígena

Daria para criar toda uma ciência
Baseada em enxergar as coisas como vejo
Em discernir obstáculos na pista
Ou um macaco com bocejo

E por mais sentido que faça
E quando surge um rival no carro vermelho
Seja o corredor X ou fumaça
Apenas uma sombra no espelho

Meu ar todo se enche de graça
Os pedais se tornam meus dedos
E na largada a vida toda eu encalço
Perseguindo ser meu próprio meio.
Se chegar entre os três primeiros
Levar taça ou champanhe, não importa
Quero mesmo é ultrapassar o limite
Que separa o normal, e viver de anseios
Quero ser combustível para, acredite,
Ser a ignição no estalar dos dedos.


E aí, me tornarei, sem fim, o cometa harley dos novos tempos.


'só porque a lua estava magnífica, nesse exato momento, e vale, ao menos, minha oferenda de um punhado de sorrisos. Aos herdeiros da Terra, um maravilhoso sonhar.'

eu.ogami

terça-feira, 9 de junho de 2009

Retina Parallax

Passa o tempo
tic tac
piui piuí
trec trec trec trec
fruoom..fruooomm...

e a vida da gente vai tomando forma
separa ingredientes
mistura
amassa, com carinho, se possível
aguarda
e vai crescendo

invariavelmente, esquenta, ferve
seca
no fim
é tudo crunch crunch cronch.

alguns, mais nhami nhami
outros, hmm nananaam.

Eu partilho cada segundo com uma multidão
pensamentos
idéias
vontades
sentimentos

se não fosse algo abstrato
seria muita gente para pouco espaço
mas, tudo é tão lúdico e verdadeiro como queremos que seja
tão ilusório ou real quanto nosso umbervision interno permite

como a vida é boa, não é?
se você acha ruim, te aconselharia a imaginar que é, no mínimo, interessante
mesmo que, para você, nesse momentinho aí, não seja.

dialogar é tão fácil quanto abrir os olhos
escrever é tão simples quanto estender a mão
mas numa multidão de sonâmbulos e insônes
de relógios, cucos, marca-passos, e passatempos
quem consegue enxergar?

sentar, em cima do vagão
deixando o vento bater nos cabelos
e as linhas de alta tensão estalando por sobre a cabeça
ver os campos não tão verdejantes
e as cidades não tão esplendorosas

um, narigudão
outro, antipático
o velho, carrancudo
o outro, sorrisão
um, fone de ouvido
outro, fone no ouvido
um, só suspiro
alguns, só latido
muitos, só rotina
os cansados, já vão dormindo

se poesia não fosse algo tão abstrato
como aquelas coisas que listei lá em cima
diria que você está quase me entendendo

processo
criação
e proliferação, são ações naturais
expontâneas ou provocadas

refletir
escutar
descobrir
se encantar

sao ações simples
normais
porém, titânicas

explicar,
entender,
desvendar,
gargalhar e se encantar
são presentes magníficos

de uma realidade tão grande
quanto pode caber nas palavras

quarta-feira, 29 de abril de 2009

We are all wolves

Lembro-me da primeira vez que nos conhecemos, aquela alcova escura e suja, lar de ratos, de todos piratas expatriados e assassinos do lado oeste do Tamisa. Depois de muito sangue derramado, formando novas poças sobre o negrume do sangue seco e velho das madeiras do assoalho, você se aproximou da minha mesa. Teria atacado antes da luz das tochas iluminarem seu rosto, se não caminhasse a sua frente aquele nosso amigo, do qual você sempre reclama. Continuei a mastigar, enquanto limpava o sangue da cimitarra, e perguntei despreocupado: Vai um cookie, dona?

Simples assim. Daquele biscoito em diante muitas desventuras cruzariam nosso caminho, tantos balanços, suaves e fortes, tempestades e calmarias, que, imagino eu, as pessoas comuns não devem passar. Mas, pra ser bem sincero, eu não sei, nunca fui exatamente uma pessoa comum.

Eis, que chega o derradeiro momento. Hora ou outra, me perguntava aonde tua impaciência iria conduzir-nos. Não que impaciência não seja uma coisa boa, ou ruim, é apenas um sentimento, que todos sentimos em algum momento da vida. Torna-se um problema apenas quando ela nubla nossas visões dos fatos, como a forte neblina das florestas da Estônia.

De fato, muitas coisas me passam pela cabeça agora. Arrependimento, ou culpa, não é uma delas. Com certeza, não da minha parte. Mas, não tenho presunção de imaginar como sua mente se comportará daqui em diante, apenas sou curioso quanto as atitudes humanas. Sempre fui assim, isso que me faz ser quem eu sou. Aliado ao meu comportamento, nem sempre torna-se uma coisa boa, como a impaciência, porém, como diz o francês: É o que temos pra hoje...

Os anos no mar, capitã, me deram muito mais experiência do que apenas saques e pilhagens. E as feridas, muito mais honrarias que os espólios. Quando era pequeno, treinava os olhos para caçar, afinal, sobrevivência dependia de comida, e um filhote de lince ou um coelho gordo eram comida pra semana inteira. Depois de anos, quando nossos olhos já estão treinados para enxergar o movimento, as reações e os resultados, passamos a vislumbrar as coisas de modo diferente. E eu passei tempo demais caçando para deixar de enxergar assim. A vida é simples e não conta com grandes mistérios ocultos, o mundo é daqueles que sabem enxergá-lo.

Contemplação é papo para monges e estudiosos, não para nós, que levamos essa vida. Não para quem tem o vento salgado do oceano, chacoalhando a nau dos pensamentos. Nós nem mesmo conseguimos ficar parados no mesmo lugar, o balanço sempre existe, o eterno ir e vir. A calmaria, o estático, sempre foi a maior aflição de qualquer mandrião que conheço, até mesmo dos grandes, como Jennet ou Drake.

Muitas palavras para tentar explicar aos seus muitos pensamentos uma coisa, como disse acima, relativamente simples: estou desertando, capitã.

Quando vislumbrar essas linhas, muito provavelmente já estarei tão longe do navio, quanto o garoto Galága de um banho de água doce.

Não me preocuparei com as explicações, nem com os porquês. As ações falam tanto quanto esses hieróglifos, rabiscados num diário velho. Como de praxe, levo tudo que me é de direito, espero que não se importe.

Não encontrará o baú com prata sob a soleira da cama, as conversas sobre o vento da popa ou as histórias inacabadas, das noites de lua cheia, que tanto fazíamos questão de contar, para o turno passar mais depressa. Vigília, nunca foi meu forte, afinal.

Espero que sua arrogância não encontre na minha objeção. Livreza de espírito, sempre norteou a bússola matriz desse velho lobo do mar, jamais o deixaria de fazer agora.

Onde, quando e se nos encontraremos novamente, não posso te afirmar com toda certeza. Talvez no próximo aporte saqueador, ou naquela caravela da frota inglesa, nas mesas de jogo de Reykjavík ou na velha cabana no ducado de Liechtenstein.

Afinal, você bem sabe: uma vez caminhante, nenhum pouso jamais domará teu semblante.

No final das contas, somos todos lobos.

Will W.


PS: Não quito dívidas, mas também não mantenho laços. Para todos barris que beber daqui pra frente, lembra sempre daquelas duas canecas que me deve. E quando o tilintar lhe pesar a mente, dá os rincões ao primeiro pedinte que vês e considerarei a dívida paga. Assim, quem sabe, os próximos barris terão pra ti, gostos melhores ou sabor mais leve... Adeus

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Esfinge Bahamut

como um sátiro de lira
levante que afirma
flámula que instiga
a honrar o saldo
ao saudar a vida
interando o canto
sem débitos
me fita
na altura certa
do metro
no comprimento reto
és linda.

escreve
palavreia
cria
querer
transmutar
bem vinda
são índios
nosso destino
são anjos

- com um só tiro, delira?
- levantou essa firma!
- Flá, a mulher que o diga!

como um sátiro de lira
levante que afirma
flámula que instiga

- com um só, tiro de linha
- Pela honra do Saulo!

a saldar a dívida
- internato!? quando?

Sim, é tú!
- Me filma?
- Não é tu, na certa...
na altura certa
como um sátiro de lira
com um só tiro, delira...

do metodo
dá me tudo.
- Levantou essa firma!
levante que afirma
adianta, acima, arriba

- Tem um cumprimento certo?
- Tem um cumprimento, certo?
- Não compro, vendo reto..

és linda.
languida.
és li, nda.
- É, li, nda.

escreve.
palavreia.

fonática.
gramática.

Você, sabe o que é um parser?

gosta de banana split?
- gosta de banana split?
- gosta de, de... de, banana split?
- banana split!?
banada, split.
split.
...
split.
isplitte
is pli te
is plite
is plet
is plentiful

is plite
isplite
sprite
drink?
- I've seen the sprite dancing...
- And a satyr with a lyre

And I saw Tyr with a lier?
?
!
pelegrinaje miracolousité - ladin
...
cria
quer
transmuta
bem
vida

son hijos
our destiny
son anjos

YAHVEH
ADONAI
YHVH ADNI

Kabbalah
?!
acaba lá
a cabala
acaba-lá!
start sefirah sefer

2,3,10 - Malchut
chochmahbinahmalchut
shivabrahma
creative

cria.
repito pra você
gitã
gitano
domain
domínio
rom
romano?
-não.

repito pra você

como um sátiro de lira
com um só tiro, delira
a satyr with a lyre
I saw Tyr with a lier?

como um sátiro de lira
levante que afirma
flámula que instiga
a honrar o saldo
ao saudar a vida
interando o canto
sem débitos
me fita
na altura certa
do metro
no comprimento reto
és linda.

escreve
palavreia
cria
querer
transmutar
bem vinda
são índios
nosso destino

eu.ogami.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Smarkatch

Sibila, suavemente
Enquanto sobe as encostas
Dormentes, sedutoramente expostas
Sob o intenso brilho do sol

E os alados, que outrora gorjeavam
Depressa procuram um abrigo
De plumas negras, amedrontados
Poucos ouvem o tilintar

Agudo, faiscante, ríspido, contrário
Os cabelos longos, enevoados
Lança-se ao céu, num pulo enorme
Risca as nuvens com velocidade
Precipitado

Observa do alto, por toda a parte
Um olhar, fascinado
Digno daquele que elevou-se as alturas
Num ato juvenil, impensado

A queda, livre, leve tornado
Acariciando seu rosto com um sopro gelado
Cada vez mais próximo, já sente o cheiro do mato
Os alados, assustam-se
Fogem, voam, longe, estalados
Estalidos, barulhos, de galhos, folhas, roçados

Adentra as copas das árvores
Como um objeta lançado
Plaina, pluma, no seu belo bailado

Sibila, suavemente
Enquanto sobe as encostas
Dormentes, sedutoramente expostas
Sob o brilho do sol

Alveja, com seu olhar feérico
As linhas tênues que distinguem a verdade do embuste
Parte, em investida rompante, deixando para trás
Apenas poeira, chacoalhantes pedras e uma nuvem de folhas secas

Cortando o vento numa implacável corrida
Pula por entre as raízes e pedras
Escorrega pelos baixios e lança-se por entre espaço diminutos
Gira sob si mesmo, em movimentos acrobáticos
Dignos de nota, se notas fossem

Tamanho ímpeto
Tamanha pressa,
Ai, pressa sem tamanho
Valentia forjada sob seus cabelos enuviados
Carrega na cintura, fatia de metal, afiada,
Pequenos dentes de mordida gelada
Pra mastigar o caminho

Dos nomes, não, não
Rosto angular, face cândida, pele suave de tez alaranjada por sobre as orelhas
Um pedaço de madeira, de formato retangular, amarrado sob o fronte com um faixa de tecido azul.
Sob ele, apenas seus longos, alvos, cabelos cor de lua cheia, enevoados, cor de chuva das montanhas, que dançam, dançam sob o vento cortante.

Segue, caminhador, corredor, percorredor
Dosa os segundos em suas passados
Onde um movimento é meio
E outro passo, aproxima-se do nada
Do quase zero, do espaço perfeito
Tão, tão rápido perambula, caminhante
Nem enxergo seus efeitos
Apenas essa névoa dançante
O choro de suas madeixas cor de chuva de outono.

O receptáculo, era o contrário
Negrume e laviado, vermelho, vinho, negro
Seu pisar era pesado
Trôpego, forte, impacto, negado

O chão recusava-se a ser por ele tocado
Vá-de!Vá-de!
Receptáculo contrário
Olhos cor de mármore, língua ferruginosa
Cabelos, a própria poeira do cosmo.
O escuro do interior do cometa
Congelante, faiscante negatividade
Lágrimas de dor da própria dor, a pureza

Encontro decisivo
Riscam-se como rochas afiadas
Zuncados, zunidos, laminadas
Corre, lança-se ao céus
Como uma serpente indomada

Sibila, suavemente
Enquanto sobe as encostas
Dormentes, sedutoramente expostas
Sob o intenso brilho do sol

“Quando ia a Smarkatch, e via aquele brilho, reluzente, e o bazar do fabuloso. E me perguntava sobre a beleza, daquele, o de cabelos cor de nuvem, me via dizendo: só sei que esse lugar, de caravanas entre éons, é o começo do mundo, ele ou ela, essa neblina que vai, um passo profundo...” - Jeremias Furta-flores, no Diário do Lendário.

terça-feira, 17 de março de 2009

Rust in peace

He was rambling and roaming for three days. The hungry now was even greater than when he flee the army. Old goat meat, given to him by that old witch in Thomas Wood, was the last thing to touch his stomach for, at least, eight days. As he father always said, “these god damn roots would never feed a grown up man”. Right he was. But, after all, after all suffering and lamentations, he had the first blow of a good thought appearing his mind, after all this days of walking, that sweet potato soap of Sally Mc Lean.

Dear Sally,

A Guerra apenas causa dor aos homens. A todos os homens Sally. E como sabe, nunca fui exceção.
Esta, provavelmente, é a última carta que lhe escrevo. Pois, Sally, não existem cartas que consolem o coração de um homem da guerra Sally. Realmente não há.
Ouvi que bandos de homens do exército já começaram a invadir as fazendas e propriedades vizinhas as rotas de suprimento das trincheiras de Jugh Town. Estão todos famintos, a dias não comem um pedaço de pão ou tomam um gole de leite.
Estou de partida, querida. Não há um outro lugar que esta vida me levará, a não ser a morte, e mais morto do que estou, não quero ficar. Rogo a Deus, que, antes do fim, possa encontrá-la.
Parto hoje daqui, espero que, quando essa carta chegar as suas mãos, eu esteja mais próximo de encontrá-la do que jamais estive nos últimos 2 anos.

Com amor,

Janota, já mostrava sinais de fraqueza. Sem energia para caçar, eu o via definhar. Mais do que eu talvez. Embora, me fizesse companhia, todo esse tempo, acho que, fui eu, mais instrumento da sua ardilosa esperteza canina, que ele, da minha aventurice humana. Não importa, sei que, mesmo cansado, o velho Janota se recuperará rápido, tão breve consiga algo decente para comer. Maior que um pardal comido pelos vermes ou os ossos quebradiços de um esquilo.
Pelo menos, ele não se preocupa com o frio. Que já está a me doer os ossos. Não me visto. Me enrolo em trapos, trapos tão sujos que, se lavados fossem, se desfariam, imagino que, apenas a sujeira, mantenha esses fios presos uns aos outros.
De noite, quando a neve se fazia sentir no suave toque sob minha barba e na pelagem do velho Janota, avistei uma casadela. Um galhinheiro, com umas três galinhas, a madeira molhada estalando ao vento, e a fumaça da lareira a esvaziar-se no seu.
Bati a porta:
- Um prato de comida a um velho soldado.
- Um prato de comida a um morto de fome.

Nada.

Virei as costas, dei alguns passos, perto da cerca a porta se abriu. Se Deus permitir que você não faça nenhum mal, que ele permita que você entre. Subi os degraus.
Avistei essa jovem mulher, de cabelos negros ondulados, com um vestido verde, gola alta, olhos profundos.
Tenho um pouco de sopa, disse ela. Aceitei de bom grado. Sentei com Janota perto da lareira, um caixote velho me serviu de apoio e ela sentou-se, desconfiada, numa velha cadeira.
Perguntou meu nome. Disse que se chamava Paula.
A guerra lhe tirou tudo. Consumiu seu marido em suas trincheiras. Dois filhos, mortos. O mais novo, que havia ficado em casa, tentou defender seu último porco de um ataque de urso. Morreu uma semana após os ferimentos. Eles batem como uma marreta, esses animais. Ela não o culpa. Devia apenas estar faminto, como eles. Sem ter esperanças de ver sua família reconstruída, hoje, sobrava comida.
Embora fosse jovem, o sofrimento lhe acariciou com muitas marcas sobre a pele e, com uma saúde, já débil e fragilizada. Mas, eu podia enxergar por detrás das olheiras profundas, daqueles cílios claros, a mulher forte que já havia morado ali. Recolhida na sua cadeira, em algum lugar.

Ela se retirou para o quarto. Fiquei com Janota, de frente ao fogo. Algum tempo depois, me ofereceu algumas roupas, que foram de seu marido. Agora, sem utilidade, a não ser trazer lembranças dolorosas. Por sorte minha, serviram. Ganhei um casaco, um par de calças, boas botas e um chapéu. Graças a Deus. Joguei meus trapos no fogo, dei graças e tentei, também, queimar as memórias dolorosas do passado.

I was dreaming about the beatiful yellow glow of Sally’s hair.
I heard the door craking. Janote, lifting up the ears. I saw that feminine figure, dressed up in a long white sleep cloak.
Could you, would you, please, come with me. I stand up. Follow her to the bedroom.
She lay down on the bed. She had tears in the eyes. Could you, would you, please, lie down here, and please, don’t go any further, just, just, stand by my side.

Achei aquilo confuso. Ela pediu novamente. Por favor.Tirei o casaco. Deitei.
Janota me olhava desconfiado, mas logo deitou sob o pé da cama e lá ficou.
Depois de alguns segundos, Paula começou a chorar.
Soluçava. Entre soluços e um som de grande agonia, agarrou minha mão.
Pediu desculpas. Pediu que eu ficasse ali. Pediu por favor.

Aquela mulher, aquela fortaleza, aquele ser humano.
Chorando de frente a um desconhecido, fedido e maltrapilho como eu.
O abrigando em sua cama, em seu íntimo.

Apenas para se sentir segura. Se sentir amada. Viva.

Eu permaneci parado. Eu a abracei. E cantei a velha canção que a bruxa, em Thomas Wood, havia cantado para mim.

Oh I’m going
Oh I’m going
My dear
Soon my home will be near me
And by the falls and grace of the Lord
Soon I’ll be home, just after the storm

Even if the mountains grown up
Even if the valley stay down
Foot after foot, day after night

Oh I’m going
My dear
To home
My dear
Until the leaves fall
Until the leaves fall

A Guerra Sally, eu pensei, é a cólera de todos os homens.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Break on through

No fim, tudo é um jogo de luzes
Uma caligrafia de padre
Ou um sabor inusitado

Quantos eu não conheci?
Realmente, quantos, eu realmente conheci?
Um universo de amarras, chamado sociedade nos prende e nos liberta
Como um autêntico dharma, uma samsara

E pensar, pequeninos, que nem arranhamos a superfície do tempo deste planeta
250 milhões de anos atrás, éramos todos iguais, tínhamos até um cara engraçada,
Embora, naquela época, humor ainda não existisse

Sabe o que tudo isso simboliza, meus queridos
Que nossas cores tão breves brilharão, como a bandeira que hasteia
Nossos heróis e hinos serão silenciados, tão logo chegue o primeiro suspiro

Ainda que morrêssemos, fugíssemos ou defendêssemos
seria, tudo, jovens alunos, o caminho natural.

Venham, aconcheguem sob a copa reluzente das folhas
Sob o véu turvo dos sonhos, e ouçam essa canção
Mais antiga que o tempo
Sentem-se aos meus pés, subam por meus ombros, aconcheguem-se.

Ouçam-na

Com seus pés bem lavados
Tocou o chão
E ele rugiu

Com seus pés abençoados
Tocou o céu
E ele fugiu

Com sua voz aveludada
Chamou Deus
E ele ouviu

Veio até ele envolvido
Num manto de brilho vivo
Deixando os cabelos dançarem ao sol

Com suas mãos abençoadas
Tocou Deus
E ele sorriu
Com seus pés abençoados
Andou só
Partiu

Com sua mente aveludada
Com o calor de alma pura
Emergiu
Mergulhou no cosmo profundo

Encontrou partiu o mundo
Saiu
Não cansou.
Não dormiu.
Não chorou.
Só reconheceu a beleza
A natureza
O velho pulsar
Só observou a sua teia
As certezas
Deixou lá

Vejam
Vejam
Quem surgiu
No horizonte
Estou de fronte
Sob seus pés

E seu olhar me tocou
E eu nasci
Cantando

Que boa paisagem
Grande viagem
Eu nasci
Sou o som.

Eu nasci.
Sou o som.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Letter-o-rama

É nessas noites quentes de verão, que ela torna viva minha lembrança. De mansinho, sem ao menos deixar que eu notasse, lá se faz ela presente, ali, me olhando meio escondida, na tristeza de tela da minha janela.
Esta é a única época do ano que consigo vê-la sem esforço, ou sem ao menos procurá-la, permanece ali, envolta em seu véu brilhante, minha conselheira de tantos dias.
Houve tempo em que ela era mais bajulada, adorada, alvo de rituais, peregrinações, poesias... Hoje, segundo ela mesma, ela apenas contrasta. Contrasta com o Sol, contrasta com as Trevas, embora, vez ou outra inspire um poeta mais eloqüente ou um jovem louco de ácido.
Esses dias, coincidentemente ou não, também são os que meus aposentos ficam mais quentes, dado ao, como vocês sabem, intenso calor. Dessa maneira, são os dias que mais procuro ficar perto da janela, olhando as luzes da cidade, os barulhos da madrugada e meus pensamentos silenciosos. Com sua sorrateira presença, ela ilumina meus momentos de introspecção, de tomar alguma coisa gelada, ou de espiar a vida dos vizinhos. Afinal, sou curioso e não sou santo.
Tomada como amante ou como amiga, houve minhas confissões, devaneios e velho e bom rock’ roll, que me faz companhia com o monitor desligado.
The Descendents, Voodoo Glow Skulls, Gogol, Nofx, Thee Pirates, o reverendo, a coisa toda…
E, enquanto escrevo essas linhas, e ela me sorri meio rabo de olho, eu ouço aquela da Didi sabe?
Whatever Didi wants she’s gone get it, whatever Didi wants she’s gone get it, whatever Didi wants she’s gone get it… ouçam pra sentirem o ritmo que sinto enquanto escrevo essas palavras.
As vezes, gostaria de poder descrever-lhes com precisão o ritmo das coisas que penso, como dessa música. Mas, por mais artifícios gramaticais, líricos e loucos que eu utilize, ainda não consegui chegar no exato momento que gostaria de passar, na exata batida, no exato solo de baixo.
Entender de ritmo, porém, é tarefa para poucos, transmiti-los bem, quanto aos meus, posso afirmar, que ainda não consegui.
É como diz aquela música do H20: because we’re faster than the world, faster than the world, faster than the world, we can’t slow down! Como num pogo gigante sabe? Rodando os cotovelos, ouvindo o grave do baixo levantar poeira do piso, vendo o brilho do buraquinho do cadarço dos coturnos passando como estrelas cadentes, e um mar de desodorante barato, suor e bateria.
A vida é feita das escolhas que fazemos, do ritmo que pensamos, queremos agimos... por isso, não tem nada de errado comigo. Além do que eu acabo de dizer.
Chega uma hora que temos que decidir coisas importantes, coisas que rumam, que podem realmente influenciar o o que e o como do futuro. Não como que roupa escolher ou se vou no pirulito de morango ou no azul com chiclete. Eu escolheria o azul com chiclete. Agora, pro futuro, que escolha eu faria?
Pena que não estamos no tempo futuro, retificando, que farei?
Eu decidi tantas coisas a tanto tempo que nem me lembro quando se sucederam. Embora, acabe de me ocorrer que, outras grandes decisões, foram feitas no íntimo de um instante inspirado. Num telefonema, numa preguiça ou num “eu compro o celular pra você” rsrs. Boas escolhas, de fato, cada uma no seu tempo ou no seu momento mais preciso.
Nesse momento, mais preciso, eu preciso disso. Novamente, das escolhas e do momento, que vou me dar ao luxo de me dar. Preciso, posso, então, por que não?
Acho que vai ser bom, e, mesmo que não seja, vai me ajudar a decidir, a escolher, a pegar o velho esquadro pra medir a distância das estrelas.
Se me perguntasse o que poderia fazer, diria que poderia vender grandes idéias. Mas, no fim, ninguém as compraria. Mas eu poderia, novamente, me perder dentro do universo do criar, do conceber, do viver segundos, caminhando nessa direção.
E ela lá, endourecendo pro negro, sem chuvas, do seu da minha capital favorita, e, única conhecida, da América.
Sempre me ensinaram, que com, trabalho, esforço e economia, dê pra você arranjar uns trocados. Mas eu sou fissurado em pular essa parte, oras, porque não? Não disse a pouco que venderia grandes idéias? Essa, todos comprariam.
Até eu.
Tenho dois grandes adversários, a organização e o cochilo. Seria eu fraco o suficiente pra deixar que imperassem tanto assim na minha vida? Vos digo, que sou.
Um homem derrotado pela sua mente cômoda e seu organismo vadio. Que há de se fazer? Sincero, ao menos, eu sempre fui. Com tudo. Não me pergunte a resposta que não quer ouvir. Não sou esse tipo de pessoa.

Sou do tipo que tomaria um gelinho agora. Aquele do tio da ETE, que tinha de beijinho, brigadeiro e um outro sabor, acho que era leite condensado, que eu gostava tanto. A essa altura, o velho já morreu e levou pro túmulo a receita das gostosuras. Deus, ele fazia um bom dinheiro nesses verões. A gente passava lá depois da aula, ou no meio dela mesmo, pra pegar uns gelinho e ir no Chicão jogar um basquete.
Os nômades de Copacabana...rsrsrs, com regras da prisão. Só porque o time dos sem camisa, costumava as amarrar na cabeça, o que muitas vezes, impedia nossa visão de jogo, o Renée nos alcunhou de nômades de Copacabana. Uma mente insana de um garoto que aprendeu a falar inglês ouvindo metal... rsrsrs. As regras da prisão vieram alguns minutos depois, quando decidimos, depois de tomar uma lavada, que precisaríamos ser mais diretos, para obter algum tipo de Vitória. Então começaram os empurrões, as joelhadas, e os arremessos contra as grades da quadra... afinal, eram regras da prisão.
Quantas manhãs e tardes não passei da exaustão ao divertimento num único passo. Quantas risadas e momentos não vivi, com uma única escolha que fiz no passado. Desse tipo de escolha que eu falo, desse tipo de momentos que eu digo. Desse ritmo, do solo na minha cabeça agora, que, infelizmente, só eu posso ouvir. Se nada der certo, vou ganhar um rio de dinheiro fazendo vídeo-clipes. Porque eu sou dessa época, sabe? Dos videoclipes.
Lembra não? Shakira, blink 182, nirvana, sabe, essas coisas? Ah, desculpa, você é emo..rsrs
Cada um é cada um, já dizia minha boa mãe.
Se foi, endoureceu por detrás do prédio de frente a minha humilde residência. Volta amanhã e depois, até chegar em meados do mês e ela se encher, e vir brincar de cabra cega as 2 da madrugada.
Quanto mais brilhante ela fica, menos ou durmo. Fechar a janela não está entre as opções... já te falei do calor que faz aqui?
Caminhando a gente envelhece, fica experiente, aumenta a vontade de fazer sexo, enfim, um montão de coisa. Coisa boa e porcaria.
A diferença, a grande diferença, é o ritmo da sua cabeça. Uns engatinham, uma idéia de cada vez. Alguns sustentam umas idéias, por algum tempo. Outros andam, mais ousados, determinados e cabeças dura. Uns poucos fazem “copper”, inconseqüentes, insanos, alegres, ricos... Algumas boas almas correm... Agora eu? Eu faço le parkour. Como naquele momento, antes de começar música, quando o baterista está prestes a bater na caixa e estourar o bumbo, quando a guitarra acabou de fazer aquele tananaam da introdução, naquela paradinha depois de vocalista cantar a primeira estrofe, como o momento que sua mão dói, depois de você acertar aquele murro no queixo, como naqueles segundos que antecedem o gozo, como naquele momento que você está tão feliz, que antes das lágrimas caírem, seus olhos se enchem d’água, como quando você termina um desenho bom ou quando acaba de perceber que alguém está apaixonado por você, como no último suspiro antes do afogamento, como quando te empurram na piscina, como quando o CD faz aquele barulhinho e você espera a música começar, como quando você corre, com todas as forças, pra não perder aquele busão de manhã, como quando a maquininha do tatuador está prestes a tocar sua pele, como quando você recebe aquela má notícia por telefone e finge que não entendeu, como quando você dorme, e acorda sem saber se estava mesmo sonhando, ou se hoje é terça ou é quarta. Como quando você mergulha na cachoeira gelada, antes de ver a temperatura da água.
Minha vida é assim. Nessa exata medida, sem um por que de saber, mas sabendo um porque de por que não perguntar.
Eu volto logo. Afinal de contas, amanhã a lua vai brilhar de novo na minha janela.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Carbuncle crying in the mountains of Andra Padresh

When i walk by the night
Ou quando acordar de manhã
Em transe, insone, disrupting my neurons
Yeah
Let me out
Qdo eu for dobrar a esquina
Folhear a revista
Olhar nos olhos
Google something
Or laugh alone
Yeah
Drop me in
In this treasure island
Nessa coisa toda
Me deixe lá
Me deixe lá
E então, let me out
Let me out
Let me out
Quando eu pegar aquela moto
Subir naquela pedra
Dormir naquela grama
Tremer daquele frio
When i’m doing that bass solo I’ve made
Drinking with the lights down
Sabe
Let me in
Drop me out
Quando eu estiver praticando yoga
Jogando poker with the Indra God
Yeah
Me deixe levantar da mesa e sair
Levantar os pensamentos
Levantar minha mão
Pra nenhum de vocês
Only that old jass trumpet i know i like
Miss me
Já não tenho rimas
Nem nada
Over over over and over again
The same faces odd places
Make it agora
Moksha
Kanishka
Babur
Akbar
Tails
Robinson
Poe
Well
Na multidão
Que rosto falta e que rosto sobra?
Drop me out let me out
Let me in drop me in

Os punks diziam assim
O o oo
Eu gosto
Vou dizer assim
O o ooh
Hey
Yeah
Take
Vai
Sim
Drop
By
Me
I
N

Minhas lembranças à lógica

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

revisão e senso é para os fracos

Ler a porra dos gibis derrete meu cérebro
Me dá vontade de escrever diálogos inteligíveis

Aeronave encantada
Tantas vezes mencionada
Entre anjos amparadas
Na abóbora celeste
Entre verduras e ciprestes
Tamanha fúria cresce
Velocidade inerte
Um fluxo fértil
De corrente, pensamento, razão
E quando me desviro, num pulo de salmão
Estou novamente no mundo
Plumas e asas, unhas no chão
Calcanhar ralado e roído
Barulho de sono, trovão
Bocejo pálido, alvo, pedindo
Benção, e consagração
Sorte de não dormir com travesseiro
E desse calor nos meses de janeiro
Das monções israelenses e palestinas
E das gomas e do pastar das sucupiras
E T.S. Elliot e dos menos conhecidos
Das prateleiras imensas e das brochuras entorpecidos
De sangue, suor e linhas, e tinta, tinta sem tecidos
É pragmático, arquétipo, estereotipo, sincrético
Lótus caseira, vendo em ramos, dois reais a dúzia
São os alquimistas de
Kalderan
Mexem com as minhas torturas
Pintam meus sonhos com incensos em pedra
Fazem aquele barulho de doer ao subir a serra
Fadas confinadas em marca-passos
Dedos muito grossos no manejo do compasso
Mapas muito velhos para olhos muito novos
Tempestade e violência numa encosta caudalosa
Atlantes, lemurianos, são nazistas são kryptonianos
É Galactus se masturbando no céu
São meus poemas mais parecidos com os da Cris.
É a rebelião das letras MAISCÚLAS
Ou aquela propaganda nova da APAE
O que será tudo isso?
Que grande merda é essa?

São os malditos gibis, que estão derretendo meu cérebro.
Depois dessa página, já é tarde demais.

O universo conspira
Fato
Com quem?
Nunca soube de uma conspiração de um individuo só
Fato 2
O universo não está sozinho
Opções?
Acompanhante
Colega de quarto
Amigo de infância
Esposa
Divorciado, caneca de cerveja no balcão do bar
Bêbados conversam com a bebida
Fato 3
Não pode ser uma caneca de cerveja
Seria universalmente ridículo demais se fosse
O universo não conspiraria junto a uma caneca de cerveja
Fato 4
O universo não está bêbado
Pode ter feito compras
Estar com a cutícula inflamada
Estar vendo o domingão da Faustão
Mas, bêbado não.
Talvez tenha parado
Talvez tenha medo da nova lei
Última opção descartada
O universo não tem medo de leis
É o universo
E ele conspira
Aposto que ele gosta de filmes de máfia
Tipo corleone.
Seria o universo italiano?
Mezzo calabreza?
Não
Fato 5 o universo não faz parte do crime organizado
Ele é muito ingênuo
Já teriam conspirado contra ele
Afinal, famiglia é famiglia
Talvez ele conspire com algo mais numeroso
Olhos e ouvidos, formigas, golfinhos, países subdesenvolvidos
Espíritos foras-da-lei?
Gibis
Aposto que ele conspira com os gibis
10 reais que o superhomem perde feio pro universo
Já te disse que fizemos o super-herói imbatível?
Chamamos de adversário supremo
É o Flash (Wally, meu predileto) com o Yoda nos ombros.
Ahn, o Yoda ta armado com um sabre de luz com cristal de kryptonita
É pra garantir, pq a merda do Kal El é tão rápido quando o flash.
Enfim, esse é o adversário imbatível
Mandem sugestões. Não chegamos a ninguém que vença dele, só alguns possíveis empates
Ikki, pq ele sempre volta
Porra ele foi pro inferno, foi pra outra dimensão e voltou, não dá, o cara é chato!
O seya tbm, mas o flash mata a Athena primeiro.
3 nano segundos primeira volta ao mundo explode o peito da Athena com um murro
Mais 3 milionésimos de segundo mais uma volta ao mundo e já era, pisou na cabeça do seya
O Yoda até fez crochê.
O Galactus também empata e o Manhatan, e só.
É uma dupla praticamente imbatível.
O flash é mais rápido que o pensamento, vibra as moléculas da coisa até explodir, muda a freqüência vibratória e volta no tempo, muda de dimensão. É demais.
O Yoda é o Yoda, porra! O myagi verde com a força. E ele é muuuuito foda com a Força.
E ainda tem o sabre de cristal de kryptonita. Mata o mais apelão dos apelões.
Não adianta vir com batmam, ele não teria plano para matar o Yoda.
Ele mexeria a mãozinha de três dedos dele e adeus homem morcego
O flash poderia até coçar o dedão do pé.
Já sei.
O universo conspira com o Flash com o Yoda nos ombros armado com um sabre de luz de cristal de kryptonita
Certeza
Quando vc menos espera, vrrum vem o flash, vc nem percebe, acha que é uma brisa
Quando é o ar preenchendo o vácuo que ele deixou.
E alguma coisa na sua vida muda
Vc acha uma moeda de 10 centavos
Aquela menina bonita olha pra você
Vai amarrar o tênis e desvia de uma bala perdida.
Simples assim, o universo conspira a seu favor.

E nem comecei a falar do multiverso ainda.
Prolixo.
Não vale nada, mas minha mente é um ecossistema
Até meu ronco cria.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Cascata de coagulação

Cada um tem sua marca
Ninguém pode saber o que representa tudo aquilo que constrói você
Cada experiência, história ou sentimento

Unidade a partir do múltiplo
Assim somos todos nós
Teias e mais teias de pensamentos, lembranças, sensações

Hoje, vou adicionar um corte mais profundo a minha marca
Assim como ontem eu já o fiz
E no dia anterior a ontem
E no anterior a este

Que colcha de retalhos...
se indagado rapidamente, diria:
os deuses realmente gostam de costurar.

Hoje eu ganharei um troféu
E alguns dias de cama
Porque a vida, de fato é assim Benjamim
Nunca se sabe o que vem pela frente...

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Silvestre

Cada passo um novo olhar
em cada rosto um novo significado

Acolhimento
liberdade

Não são sentimentos antagônicos
são complementares

Eu, sob a benção da titã Antares
sigo na escuridão

As vozes, os sonhos
Sou lápis e papel, apenas
e a chama do lampião

Na grama, onde me deito
no riacho, onde sacio minha sede
na cabana simples, eu mesmo construí

Quando a tempestade se anuncia no fim da tarde
É na gruta que vou acender as velas e ler os mistérios encadernados

A cabana só me poupa do sol das tardes incessantes
e a rede abriga meu sono com sonhos de suave balançar

A noite, cozinho alguma carne, guardada no isopor geladinho, amarrado no fundo da gruta
o eterno tic tic da goteira, a mantêm gelada.

Os morcegos já se acostumaram com minha presença.
As cobras ainda assustam minhas madrugadas.

Os insetos não gostam da fumaça do meu incenso de pedra
E os deuses me visitam na alvorada para falar sobre símbolos e plantas.

E quando numa manhã sólida de vento rápido
caminho algumas milhas até a civilização, eu compro pão, leite e vinagre

Queijo de coalho, rapadura e milho. Sabão, sal e dois sacos de pano.

E passo rápido pela banca de jornais, leio as notícias, ali, na vitrininha.

No caminho de volta, quebro cana, roubo uns maços de almeirão e salsinha.

À noite, faço um sopão. Espanta o frio depois da garoa. Os sapos coacham alto e eu durmo feliz.

Amanhã, vou cozer um panelão de milho com canela e sal.
Pescar alguma coisa para a janta.

E rabiscar estas palavras num pedaço de papel.

Meu coração é assim. Encontra calma nos braços da terra. Contempla a Terra nos braços do céu.