quarta-feira, 28 de março de 2007

Ecce Homo

Afogar

Confusão
Acalmai meus delírios
Adormeça meus anseios
Fuzile minhas dúvidas

Confusão
A ti lhe rogo em prece
Antes de tudo vá
Desaparece
Enquanto busco ainda em vão

Solução
Para os problemas que me tomam
Para os martírios que me zombam
Paras intempéries do coração

Solução
A ti procuro o fardo
Em meu futuro ainda vago
Feito de bolhas de sabão

Adição
De formas e soluções presentes
E de todo modo inconseqüentes
Que nublam minha visão

Indiferente
A tudo isso que se passa
A uma discussão que se arrasta
Não quero viver em vão

União
Dos caminhos diferentes
Das idéias dissidentes
Dos gêmeos sem irmãos

Há na mais derradeira presença
Dúvida que alastra-se em crença
Forte vórtice de confusão

Confusão
Não faz de mim tortura
Achai em meu peito a fissura
Que de rompante florescerão

Comunhão
De toda sorte de culturas
De dias e luas
De vida e paixão

Cavalgo a toda morte e vida

Pra que mesmo desmedida

Anoiteça meu coração

segunda-feira, 26 de março de 2007

Contém Glútem

Doppelganger

Agrilhoado...
Por querer
Muita coisa muda na vida gente
E de repente nada é mais como queria
As pessoas não mais me encantam
Preciso de novos sons novas cores
Em teus olhos vi novas cores
Vi lugares que nunca havia visto
Histórias que nem sequer imaginava
Senti sabores com aroma de vida
Mas meu grilhão, meu querer algoz
Minha confusão não me permite mudar
Não me permite querer-te
Aliás, permite, mas não posso, temo
Não quero, não devo, mudo, receio
Confuso, alheio, me consumo
Ah o grilhão que prendi-me por vontade
As juras que fiz,
em verdade que já lavei...
Quisera eu que isso tivesse acontecido algumas semanas
Alguns anos
Alguns dias
Porque você é tão envolvente?
Mais envolvente do que as correntes que me prendem.... ?
Me perderei no meu destino?
Ou me perderei dentro de você?
Quero tanto...luto tão pouco
E o tempo só agrava a situação
Me mostra o que eu tenho e o que eu acho que quero
E desgasta o ferro dos grilhões
E atenua o fogo das velhas paixões...
A questão principal não é querer ou ter
É saber...
O que realmente passa na sua cabeça.
Antes que tomado por paixão e delírio
Eu enlouqueça.

sábado, 24 de março de 2007

Ou ficar a pátria livre ou morrer pelo... pelo?

O Domingo de Ulisses

Quando Ulisses foi a feira
Não sabia o que comprar
Queria imã de geladeira
Pra enfeitar seu frigobar

Quando Ulisses foi a feira
Decidiu comprar banana
Fruto doce evita câimbra
Prata sul-americana

Quando Ulisses foi a feira
Foi na banquinha de caqui
E depois subiu no morro
Para ver Itáca dali...

Mas pobre Ulisses viu
Que Itáca lá não estava
Tinham ido embora quase todos
Depois da revolução escrava

E lá vai o velho Ulisses
Por Penélope buscando
Ali estava a fiel dama
Como sempre esperando

Ulisses disse que precisava
De mais corda pro varal
Comprou logo 12 metros
E luizinhas de natal

Aproveitou do fim da feira
Pra comprar umas chinelas
Comprou umas do Hawaii
Que também era ilha distante
Mordeu mais um caqui
E não se tardou mais um instante

Ulisses parou um momento
Pra se perguntar o que faltava
Mas encontrou um amigo que a muito não falava
O que inspirou o nerd Sófocles em sua peça encenada
Era Ájax o bravo, filho de Telamon
Que um rebanho de gado inteiro, sozinho matou
E Ájax dizia:
Odisseu que fazes aqui?
E Ulisses respondia:
Vim comprar fruta caqui, muito boa saborosa, quer desta um pedaço?
E disse Ájax ao navegante:
Estou satisfeito, obrigado
E você Ájax do escudo, que vem a feira fazer?
Venho comprar cortador de unhas, porque as minhas insistem em crescer.

E Ulisses foi pela feira
Levando a amada pelo braço
Decidiu comprar um pastel
Pra amansar o estômago fraco
Pediu pra doce Penépole,
Garapa com limão
Ela muito agradecida
Colocou as sacolas no chão

E como todo bom estrategista
Aqueu e aquivo de fato
Segurou o pastel com a esquerda
Pra não ser pego desarmado
A mão direita no gládio
Ainda que embainhado
Faria de tal modo estrago
De por toda a barriquinha a baixo

Velho Ulisses comeu
Seu pastel sabor palmito
Muito feliz com o fato
repetiu o mesmo pedido

Quem o atendia era
um suave e simples ancião
Seu nome era Shang Tsung
Mais um chineizinho padrão.

E Ulisses se foi
Como veio da mesma maneira
Só não lembrou de comprar
Seus imãs de geladeira

Chegou em casa estafado
Vestindo novas chinelas
Com mais de doze metros de corda
E luizinhas azul e amarelas

Percebeu então por um instante
Ter perdido seu favorito programa
Smalville já tinha passado
E aquela outra série bacana
Era tudo muito triste
Digno de batalha trojana

Quando deu por si
Já havia adormecido
Quase como o ciclope
Que há muito tinha defendido

Lá jazia o velho Ulisses
Pela manhã de domingo rendido

sexta-feira, 23 de março de 2007

Hoje é dia 23...

Periapto de Grandeza

Pessoas criam coisas. Homens criam casas, pontes, postes, pôneis, homens criam coisas. Coisas criam o homem, ambiente, oportunidades, geografia.
Na tarrafa da vida somos só mais um nozinho frouxo de fio de nylon, somos nada menos e nada mais do que aqueles abaixo e acima de nós.
Se para a maioria das pessoas no mundo, o paraíso fica no céu, e o céu fica em cima, por que continuam enterrando seus mortos?
Mais perto pra descer? Highway to Hell? Se não fosse a ironia, seria apenas uma boa música.
No meio do processo de criação, na verdade o ponto culminante do mesmo, é o abraço cálido da inspiração.
Tal como virtú maquiavelesca domar-te dama é difícil tarefa. Acolher-te ainda que no mais quente dos leitos é herculeanamente perigoso.
Destrói homens com a mesma facilidade que fascina almas.
Walking Dead in Living Body a inspiração salta de seu epitáfio para um novo começo sagaz, tênue e agudo como giz de cera raspando a lousa.
...
Presidente por que o senhor bebe tanto whiskey?
- Oras bebo por que é líquido, se fosse sólido comê-lo-ia...
Sábio Jânio...
Defenestro-me em intertextualidade redundante para dessa forma enaltecer minha skáldica eloqüência e perder-me em devaneios policromáticos.
Tenho raiva do Euclides, e sua tridimensionalidade, balela! Quem disse isso?
Cadê o Pitágoras, perguntaram - Tá na Índia, mas se você quiser esperar, vou mandar o escravo servir um café.
Deuses Polinésios com Cthullu são temíveis, insanos e bermudáticos...
Na bandeira de Belize tremulam os dizeres: Sob Umbra Floreo
“Floresço sob tua sombra”
Disse Caius Julius César : “ Nos confins da Ibéria há um povo que nem governa-se nem deixa-se governar”

Um periapto é uma jóia lapidada usada como adorno que repousa belamente sob o colo feminino.
Como toda pedra dessa maneira trabalhada, ele tem várias faces, assemelhadas em tamanho e idênticas em proporção.
Porém ao olharmos através da jóia a distorção da luz causa-nos efeitos calidoscópios.
Como imaginação é um caos bruto, matéria mais inefável e volátil possuída pelos seres, só um ímpeto de mesma maneira volúvel, porém rígido e intenso, é capaz de lapidá-la.
Aos loucos a coroa dos artífices: a inspiração a mãe de todas as histórias.
Tão reais como qualquer história pode ser.
A verdade sempre enganou o mundo e a cegueira nunca foi obstáculo para que se pague a conta de luz.
Bem venidos aqueles dispostos a olhar muito além da sua córnea a caleidoscopia do universo, do homem e de suas criações.
Pessoas criam coisas...Homens criam pessoas...Coisas criam homens..Criam pessoas e homens...Homens coisas e criam...Pessoas homens e coisas...criam...