quarta-feira, 2 de julho de 2008

Mordedor de caneta bic

Sou dessa raça distinta
Sem nada muito além de vontade e pouco requinte
Desde criança viciados
Na mastigação voraz sem apetite
Corram, e gritem a todos os ventos
E os incrédulos que acreditem
Está chegando a grande horda
Aí vem os mordedores de caneta bic!

Destroem rapidamente
Todo e qualquer vestígio
De tamposa ou de tampinha
E da paradinha de plástico enfiada no fim do tubo
Que embora todo mundo saiba o que é
Não tem nome a dita coisinha...
A mastigam e fazem vácuo
E ainda há quem prossiga
Prendem com o vácuo a tampinha
E a deixam grudada na língua
Depois atiram no primeiro desavisado
Que seu alcance permita

São grandes temores para todo cidadão
Quando começam a mastigar o plástico
É possível ver os farelinhos no chão
Grandes lascas da caneta são arrancadas a dentadas
E lançadas com a velocidade, força e explosão
De uma dúzia e meia de granadas
Protejam as crianças
Acudam a grávida desmaiada
Os mordedores estão se aproximando
De maneira firme e acelerada

Que os deuses todos nos ajudem
Para que eles logo cheguem na carga
Mastigando o tubinho plástico
Esses devoradores acalmam suas almas
E conseguimos fugir antes do golpe fatal
Quando eles rasgam o invólucro de plástico
E estouram a carga da caneta na boca
Que bom que ninguém mais está por perto
Porque a revolta deles não é pouca

Na verdade, sorte deles que ninguém está por perto
Pra ver todo mundo com a boca roxa...
Sorte deles que ninguém está perto
Para ver aquele sorriso azul escorrendo nas coxas
Que pena que não estou perto
E nem vou poder tirar um sarrinho,
Fazer uma firula, uma gozação

Essa vida de mordedor de caneta bic
O filosófico frustar
De perseguir em vão
De nunca obter
De mastigar e perseguir e galgar
De até se conformar, acabar e saber
Que vive mastigando tudo, sem ao menos saber - por que?

Das rotinas da vida,
Das obrigatoriedades das escolhas
Diárias,
Como atravessar ou não o farol
Das escolhas diárias das
Obrigações,
De ser rotineiro ou viver só...

Pobre de ti mordedor
Que desde criança não largou essa mania
De roer e remoer coisas inúteis
Sem significância na vida

E por mais que falem
E mesmo se alguém legal insistir
Tem guardado em seu peito uma reação de fúria
De morder, rosnar e ganir
Mas o que não sabes mordedor
É que no final, no frustrante momento onde tudo é maresia
Você sairá manchado
Na honra, no orgulho, no âmago
Pra sempre um entristecer azulado

4 comentários:

Dra. ƒernanda Trigo disse...

10º lugar!
Parabéns pelos textos.
Sou quem sempre vai te apoiar

Elsa Villon disse...

Eu nunca tinha pensado em como um idiota que sempre estoura a carga da caneta na boca fosse reprimido.

Talvez eu seja a idiota.

Elsa Villon disse...

Ow Sr. Moderdor de caneta bic...

Há ovos novos no quiosque.

Repetindo: há ovos novos no quiosque.

Miℓena . disse...

Acho que continuo remoendo muitas coisas...rs!!!

Beijos e até mais!