sexta-feira, 13 de abril de 2012

Bifrost

Como ainda não escrevi sobre isso?
Como ainda não escrevi.

Dei o passo, mãe.
Dei o passo. Sou só eu. Eu e a noite escura, cheia ou não de terrores.

Quanto lágrima ainda tem guardada aqui, mãe.
Não sei, não. Não sei te dizer. Não acho que é mágoa, é só tristeza. Coisa de criança.

Como o tempo passa, né, mãe.
Como a vida vai levando a gente.

Não sei bem onde cheguei não. Tô bem. As vezes acho que tô bem, as vezes acho que tô mal. Faz parte, mãe, faz parte.

Aprendi tudo? Será? Trabalhar tanto, trabalhar muito. Trabalho, trabalho, trabalho. Tô ficando mais próximo dele ou ficando mais longe de mim, mãe.

Quanto tempo que eu não escrevo. Que não sai um verso dessa língua seca. Pensei naquele poema de muitas vidas outro dia. Mas faz tanto tempo, já tô perdendo o tato.

"Tem coisas que aconteceram faz tanto tempo
que parece que foi em outra vida. Com outra pessoa, outro você. Mas aí um cheiro, uma lembrança de leva de volta, e de repente é como se tudo não passasse de um filme. Que maus atores somos nós"

Não era bem assim. Mas memória nunca foi o forte. Cruzei. E agora. Cruzar os outros e cruzar, zarpar. Viver a existência assim, nesse barco de sonhos.

Agradeço todo dia, mãe. Pelo meu dia-a-dia, pela minha vida, por minha família, meus amores, você. Porque eu sei reconhecer que o presente é o maior presente da vida. Com o perdão da piada ruim.

Tô sozinho não, mãe. Tem meu irmão aí, meus irmãos. Que abraço bom, de amor, de carinho. Vai ser um bom homem, mãe. Vou cuidar dele. Pode ter certeza, vou cuidar com a minha vida, como você fez conosco.

Não tenho mais medo de E.T, não tenho medo de nada, mãe. De escravidão, de morte. A loucura ainda me assusta, mãe. Mas eu não vou enlouquecer, não, mãe. Meu coração é forte demais, mãe. Bate-bate-bate. Vai me guiar sempre. Regular meu passo, mostrar o caminho, e vou agradecendo. Vou vivendo as pequenas coisas mãe. Quero dar valor. Usar o que eu aprendi.

perdoa se te desapontei mãe. perdoa se te desapontei pai. Amo vocês.

Dei o passo, mãe. Faz uma semana, um mês, 10 anos que dei o passo, mãe. E não me arrependo não. Era meu caminho. Era pra ser, tá sendo. Vou ser o Corto Maltese. Vou ser melhor que ele, mãe. Vou ser melhor que ele.

O mundo é meu quintal mãe, vou fazer valer cada lágrima que você derramou. A vida que você dedicou para nós criar. Todas, todas as horas de trabalho do pai. Que nada nunca me faltou. Sou guerreiro, mãe. Vou vencer.

Uns dizem que eu tenho sorte, mãe. Pode ser, sempre se precisa de um pouco de sorte. Mas eu sei que não é só isso, não. Tá no sangue, mãe. Tá escrito na wyrd.

Se alguma coisa mudar, se tudo mudar. Se alguém fizer a viagem. Quem fica canta a canção. Segura a saudade. Toca a bola. E agradece. O presente é nosso maior presente, mãe.

Minha vida é meu maior presente. É só é minha graças à vocês.

Muito obrigado. Hora de enxugar lágrima, ir dormir. Trabalhar. Tá na hora mãe, e eu já dei o primeiro passo.

Obrigado por abrir a porta, por me deixar entrar. E sair. Vou ali, vou vencer e já volto.

o sangue é forte, a árvore é firme.
o amor eterno e o lobo é só.

Sou eu.

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