terça-feira, 13 de novembro de 2012

Falso positivo


Poesia é uma amante descabida
ingrata
Não bate à porta
Entra
bagunça todas as minhas coisas
escancara as portas dos armários
joga meus livros no chão
grita como uma psicótica
e me chama a minha cama, entre roupas e papéis
me chama para entrar dentro dela
sem nenhum resquício da fúria que fez ao chegar, há pouco
ela é assim,
poesia

desvairada e incorreta
é como quando você se perde, andando no metrô, e alguma coisa te lembra outra coisa completamente diferente
te lembra uma pessoa, um show qualquer, uma música do Red Hot
aí vem aquela voz
suspiro quente na minha nuca
- escreve, galego, escreve!

Sou rebelde
rompedor de correntes
insurreitoso de botequim
protesto
seguro
dá nada.
danada, lá vem ela novamente

comendo meus dedos, meu pulso
uma língua de ferro quente
um tamborilar sem perceber
de repente, é como se alguém me tomasse pelo braço

escreve, desgraçado, escreve!
E eu não falo desgraça aqui em casa.
Acho palavra muito forte

Aí ela sobe, uma kundalini poética
vooommmm, vupt!
tá na minha nuca de novo
rasgando para os lados como um tigre atacando uma jugular
eu sinto ela dançar
sinto ela ir me puxando para dentro
para fora
para dentro
para fora

Aí ela me deixa ver que eu tô na minha cama de novo
sofrendo de coito interrompido no meio das folhas e gibis
o vento frio bate na minha cara e eu olho o quintal
- Filha da puta!
nem para se despedir

Um comentário:

Elsa Villon disse...

"rasgando para os lados como um tigre atacando uma jugular
eu sinto ela dançar
sinto ela ir me puxando para dentro
para fora
para dentro
para fora"

E é assim mesmo. Na nuca, na jugular.

Belos versos.