domingo, 13 de setembro de 2009

Minha tatuagem

não era esse
era outro
que vinha em seu lugar

mas que vida
era aquela
e você não soube esperar

1 bilhão de chineses
e você ainda sem jantar
esqueça os filmes franceses
ache as figuras de colar

um imenso ligue-pontos
de acácia e acaso
um imenso disse não disse
de flores lindas e de vasos

pilhas e mais pilhas de gibis
horas de jogo
em quadra, suado

pés, e bolhas e
broncas
e os ouvidos molhados

um pensar quase eloquente
de uma força que derruba a gente
irritação quase vadia
de um tarde sem companhia

que belo sol
incandescente
num caduceu imponente
sem importância ou enfeite
sem Deus nem Deleite

uma prateleira de filmes para adultos
e diversas indicações de filmes para crianças
recomendações para não andar sem camiseta
proibições de alimentos nessas circunstâncias

uma mistura de cocas e tiros
e sabor de conhaque barato
muita, muita cevada
parmegiana para lavar o prato

não é confusão
é um além de clareza dos fatos
também não é tristesa
é um relance
como um cavalo num salto

nunca foi tanta natureza
grutas, cascatas e tudo abaixo
nunca foi tanta proeza
nem nos idos 16, claro

tinha um livro em branco
ganhado de presente
uns pensamentos tortos
um peito batido ritmicamente
uma sociedade de tolos
e tolice o suficiente
para escrever uns versos soltos
e dizer que estou indo em frente
não que isso seja verdade
ou que a mentira seja diferente
é tudo questão de vontade
inspiração e olhar sereno

a paz de espírito que eu tanto busco
continua enfurnada num oceano de teias
a paz de espírito que tanto eu busco
continua conduzida por vozes na areia
a paz e o espírito, que eu tanto busco
continuam reversas as sombras da luz
como cego em um jogo de espelhos

minhas canções
tem partes das suas músicas
meus pensamentos
um cheiro que me lembra você
os seus diversos vocês
muitas vezes me lembram a mim mesmo
minha gramática sem qualquer porquês
está escrita sob rasuras e erros
e meu destino de caminhar sozinho

é a maior dádiva
das maldições que criei primeiro
os outros defeitos todos
que tracei
alma
eu te digo
devorarei inteiro

como um esquadrão de homens suicidas
sou tão voraz
quanto o sol de janeiro

profundezas?
sou uma fenda austral
tentando tocar as pontas
de mim mesmo
quietude
não é desapego

ele me disse, quando criança
siga sempre o caminho do meio
é o Boddidharma, Boddishivata
é a encarnação de um primevo
um Elohim, meu Mahabarahta.

meu mastigar
ósseo
férreo
um magnetismo
mental

credo
nada mais comum
do que um final
começou 1
eram dois
agora
é zero

é um ciclo
é como quando dá fome
é como quando se espera

eu, ruminante
conjunto finito
minha tatuagem
é o meu mistério.

Um comentário:

Elsa Villon disse...

Ruminante... dizem que eles degustam melhor. Afinal, só a vaca, tem 4 estômagos.

Piadas ruins à parte, gostei, é bonito e ogâmico.

Não sei se o Rio continua lindo, mas mando AQUELE ABRAÇO.