quarta-feira, 4 de março de 2009

Letter-o-rama

É nessas noites quentes de verão, que ela torna viva minha lembrança. De mansinho, sem ao menos deixar que eu notasse, lá se faz ela presente, ali, me olhando meio escondida, na tristeza de tela da minha janela.
Esta é a única época do ano que consigo vê-la sem esforço, ou sem ao menos procurá-la, permanece ali, envolta em seu véu brilhante, minha conselheira de tantos dias.
Houve tempo em que ela era mais bajulada, adorada, alvo de rituais, peregrinações, poesias... Hoje, segundo ela mesma, ela apenas contrasta. Contrasta com o Sol, contrasta com as Trevas, embora, vez ou outra inspire um poeta mais eloqüente ou um jovem louco de ácido.
Esses dias, coincidentemente ou não, também são os que meus aposentos ficam mais quentes, dado ao, como vocês sabem, intenso calor. Dessa maneira, são os dias que mais procuro ficar perto da janela, olhando as luzes da cidade, os barulhos da madrugada e meus pensamentos silenciosos. Com sua sorrateira presença, ela ilumina meus momentos de introspecção, de tomar alguma coisa gelada, ou de espiar a vida dos vizinhos. Afinal, sou curioso e não sou santo.
Tomada como amante ou como amiga, houve minhas confissões, devaneios e velho e bom rock’ roll, que me faz companhia com o monitor desligado.
The Descendents, Voodoo Glow Skulls, Gogol, Nofx, Thee Pirates, o reverendo, a coisa toda…
E, enquanto escrevo essas linhas, e ela me sorri meio rabo de olho, eu ouço aquela da Didi sabe?
Whatever Didi wants she’s gone get it, whatever Didi wants she’s gone get it, whatever Didi wants she’s gone get it… ouçam pra sentirem o ritmo que sinto enquanto escrevo essas palavras.
As vezes, gostaria de poder descrever-lhes com precisão o ritmo das coisas que penso, como dessa música. Mas, por mais artifícios gramaticais, líricos e loucos que eu utilize, ainda não consegui chegar no exato momento que gostaria de passar, na exata batida, no exato solo de baixo.
Entender de ritmo, porém, é tarefa para poucos, transmiti-los bem, quanto aos meus, posso afirmar, que ainda não consegui.
É como diz aquela música do H20: because we’re faster than the world, faster than the world, faster than the world, we can’t slow down! Como num pogo gigante sabe? Rodando os cotovelos, ouvindo o grave do baixo levantar poeira do piso, vendo o brilho do buraquinho do cadarço dos coturnos passando como estrelas cadentes, e um mar de desodorante barato, suor e bateria.
A vida é feita das escolhas que fazemos, do ritmo que pensamos, queremos agimos... por isso, não tem nada de errado comigo. Além do que eu acabo de dizer.
Chega uma hora que temos que decidir coisas importantes, coisas que rumam, que podem realmente influenciar o o que e o como do futuro. Não como que roupa escolher ou se vou no pirulito de morango ou no azul com chiclete. Eu escolheria o azul com chiclete. Agora, pro futuro, que escolha eu faria?
Pena que não estamos no tempo futuro, retificando, que farei?
Eu decidi tantas coisas a tanto tempo que nem me lembro quando se sucederam. Embora, acabe de me ocorrer que, outras grandes decisões, foram feitas no íntimo de um instante inspirado. Num telefonema, numa preguiça ou num “eu compro o celular pra você” rsrs. Boas escolhas, de fato, cada uma no seu tempo ou no seu momento mais preciso.
Nesse momento, mais preciso, eu preciso disso. Novamente, das escolhas e do momento, que vou me dar ao luxo de me dar. Preciso, posso, então, por que não?
Acho que vai ser bom, e, mesmo que não seja, vai me ajudar a decidir, a escolher, a pegar o velho esquadro pra medir a distância das estrelas.
Se me perguntasse o que poderia fazer, diria que poderia vender grandes idéias. Mas, no fim, ninguém as compraria. Mas eu poderia, novamente, me perder dentro do universo do criar, do conceber, do viver segundos, caminhando nessa direção.
E ela lá, endourecendo pro negro, sem chuvas, do seu da minha capital favorita, e, única conhecida, da América.
Sempre me ensinaram, que com, trabalho, esforço e economia, dê pra você arranjar uns trocados. Mas eu sou fissurado em pular essa parte, oras, porque não? Não disse a pouco que venderia grandes idéias? Essa, todos comprariam.
Até eu.
Tenho dois grandes adversários, a organização e o cochilo. Seria eu fraco o suficiente pra deixar que imperassem tanto assim na minha vida? Vos digo, que sou.
Um homem derrotado pela sua mente cômoda e seu organismo vadio. Que há de se fazer? Sincero, ao menos, eu sempre fui. Com tudo. Não me pergunte a resposta que não quer ouvir. Não sou esse tipo de pessoa.

Sou do tipo que tomaria um gelinho agora. Aquele do tio da ETE, que tinha de beijinho, brigadeiro e um outro sabor, acho que era leite condensado, que eu gostava tanto. A essa altura, o velho já morreu e levou pro túmulo a receita das gostosuras. Deus, ele fazia um bom dinheiro nesses verões. A gente passava lá depois da aula, ou no meio dela mesmo, pra pegar uns gelinho e ir no Chicão jogar um basquete.
Os nômades de Copacabana...rsrsrs, com regras da prisão. Só porque o time dos sem camisa, costumava as amarrar na cabeça, o que muitas vezes, impedia nossa visão de jogo, o Renée nos alcunhou de nômades de Copacabana. Uma mente insana de um garoto que aprendeu a falar inglês ouvindo metal... rsrsrs. As regras da prisão vieram alguns minutos depois, quando decidimos, depois de tomar uma lavada, que precisaríamos ser mais diretos, para obter algum tipo de Vitória. Então começaram os empurrões, as joelhadas, e os arremessos contra as grades da quadra... afinal, eram regras da prisão.
Quantas manhãs e tardes não passei da exaustão ao divertimento num único passo. Quantas risadas e momentos não vivi, com uma única escolha que fiz no passado. Desse tipo de escolha que eu falo, desse tipo de momentos que eu digo. Desse ritmo, do solo na minha cabeça agora, que, infelizmente, só eu posso ouvir. Se nada der certo, vou ganhar um rio de dinheiro fazendo vídeo-clipes. Porque eu sou dessa época, sabe? Dos videoclipes.
Lembra não? Shakira, blink 182, nirvana, sabe, essas coisas? Ah, desculpa, você é emo..rsrs
Cada um é cada um, já dizia minha boa mãe.
Se foi, endoureceu por detrás do prédio de frente a minha humilde residência. Volta amanhã e depois, até chegar em meados do mês e ela se encher, e vir brincar de cabra cega as 2 da madrugada.
Quanto mais brilhante ela fica, menos ou durmo. Fechar a janela não está entre as opções... já te falei do calor que faz aqui?
Caminhando a gente envelhece, fica experiente, aumenta a vontade de fazer sexo, enfim, um montão de coisa. Coisa boa e porcaria.
A diferença, a grande diferença, é o ritmo da sua cabeça. Uns engatinham, uma idéia de cada vez. Alguns sustentam umas idéias, por algum tempo. Outros andam, mais ousados, determinados e cabeças dura. Uns poucos fazem “copper”, inconseqüentes, insanos, alegres, ricos... Algumas boas almas correm... Agora eu? Eu faço le parkour. Como naquele momento, antes de começar música, quando o baterista está prestes a bater na caixa e estourar o bumbo, quando a guitarra acabou de fazer aquele tananaam da introdução, naquela paradinha depois de vocalista cantar a primeira estrofe, como o momento que sua mão dói, depois de você acertar aquele murro no queixo, como naqueles segundos que antecedem o gozo, como naquele momento que você está tão feliz, que antes das lágrimas caírem, seus olhos se enchem d’água, como quando você termina um desenho bom ou quando acaba de perceber que alguém está apaixonado por você, como no último suspiro antes do afogamento, como quando te empurram na piscina, como quando o CD faz aquele barulhinho e você espera a música começar, como quando você corre, com todas as forças, pra não perder aquele busão de manhã, como quando a maquininha do tatuador está prestes a tocar sua pele, como quando você recebe aquela má notícia por telefone e finge que não entendeu, como quando você dorme, e acorda sem saber se estava mesmo sonhando, ou se hoje é terça ou é quarta. Como quando você mergulha na cachoeira gelada, antes de ver a temperatura da água.
Minha vida é assim. Nessa exata medida, sem um por que de saber, mas sabendo um porque de por que não perguntar.
Eu volto logo. Afinal de contas, amanhã a lua vai brilhar de novo na minha janela.

Um comentário:

Anônimo disse...

Ela tava linda ontem, brincando de esconde esconde no céu... como alguém que começa a contar um segredo e pára pra ouvir o barulhinho da porta. E na loucura, nos passos fortes no asfalto, no drum’n’bass que te faz olhar de banda – vc sabe, aqueles recursos do personagem principal dos videoclipes. Concordo. Um gelinho de uva que deixa a boca roxa, e o que eles dizem? Walk away me boy, walk away me boy, and by morning we'll be free… só blablation. Prefiro definir o rush of blood como aqueles tananan de introdução do Krig, misturado com a sensação de pisar fundo no acelerador, de vento na cara, de gelo, de pressa e de fúria. Quanto às escolhas e ao futuro: tudo farinha do mesmo estorvo.

Beijo