terça-feira, 13 de outubro de 2009

nem tente entender dr. jekyl em malibu

falar de dor é complicado
mas eu ouço elvis e plasticines
e surfin music e um groove old school

não melhora em nada
falar de dor é como falar de amor
um infinito de sinônimos vazios
buscando um sentido que nem sempre é seu

nessas horas, eu nem sempre sou eu
nem o conselho de cadeiras velhas no meio do meu peito entra em consenso
é algo fora de sensação, fora desse plano, dentro da minha cabeça
debaixo da minha pele, sobre os meus olhos
entre minhas mãos trémulas

e não é lágrima
não é grito
não é fúria
não é luta
é dor
lastiante
de esmigalhar os ossos
e fazer elvis soar como smiths
e plasticines como qualquer quarteto de cordas ou Stan Getzs
e nem dele eu gosto

mas, a vida é shuflle
para bem ou para mal
e aí, quando aparece alguma canção daquelas que me deixa mal
aquela do tim, aquela do cazuza, qualquer uma do weezer ou o diabo
dói como se eu tivesse injetado fluído de isqueiro nas veias
e, nem de cigarro eu gosto

muito tempo atrás, embora pouquíssima gente saiba
eu fotografava
e era lindo
mas, nunca tive muito dom com o revelador
e minhas obras primas ficavam brancas e estouradas como uma manada de bisões nas colinas da Pangea
e eu as amava em sua imperfeição
embora buscasse sempre o impecável
o pleno, o equilibrio entre as cores
o agradável aos olhos
o bem visto

acho, que no fim é isto
fiquei tempo demais no revelador
estou branco, pálido, estourado como se nenhuma gota de sangue cigano, nórdico, ibérico, corresse nas minhas veias

irônico
meu problema sempre foi me revelar demais
abrir a porta do conselho das cadeiras e dizer
entre, fique a vontade

uma dor infindável que corrói aquela mesa ancestral
de coisas e coisas que nem lembro que fiz
porque, de fato, não era eu.

não é tristesa
nunca fico triste.
acordo cantando.
trabalho sorrindo.
é uma dor.
um dor tão aguda
que me obriga a escrever sobre ela.

ficção ou não
é tão real quanto o blanka ou, sei lá, o maradona
percebe, é um dia sem caixa alta
um dia que eu deveria estar datilografando coisas que você nem imagina na minha hamilton 1910
minha querida

fico pensando
em tanta coisa
mas, é como se o dr.jekyl vivesse em malibu
simplesmente não faz sentido
um episódio de csi onde o sonic é o assassino.
uma vida, de faroeste, sem zumbis, alienígenas, mutantes ou círculos secretos de magia

então, só para fazer você sofrer
vou escrever até os dedos cansarem
é diferente quando sou eu que estou falando
é diferente porque eu tenho as rédeas das coisas
e sou mais forte que uma muralha de pedra
sou um zigurate de zinco com todo o pleonasmo que sua orelha aguenta
sou aquela música das Donnas, you can play my game.
just tell me your name
é como naquele outro poema que escrevi
como nas vezes que meus neurônios vencem por superiodade númerica
a letra diz, i let you play my flipper, if you let me unzip your zipper.
e tenho andado tão emotivo ultimamente que uma letra me faria matar
um solo de guitarra para arrancar a traquéia de alguém
e sei tanta coisa de soldado que pouca gente sabe
sei tanto ponto de veias e artérias principais que os livros de anatomia parecem aquela massinha de conjunto do dr. opera-tudo

mas, esse filha da puta me impede
porque é assim que sou
cósmico como algo que condena o cometa
converso com Galactus de igual para igual
e sei nomear todos os corpos estranhos em órbita de Urza Mayor
aprendi a me guiar pelas estrelas e comer pouco
e você nem imagina como é comer pouco

e aprendi o galador de invocar gigantes
e os espíritos dos que vieram antes de mim atendem as minhas preces
e vejo todos no vale que visito em meus sonhos

e aí vem aquele solo de guitarra de Hunger
e o sabor de incontáveis beijos de mulher
rs.
coral fang, ela canta.
eu te vi cantar.
vi tantas.
não só agora.
me diz, quantos anos foram.
um milhar, uma dezena de milhares
é claro, daí que vem

cada sabor que sinto como uma melodia
como a neve que tem textura e cor
e, ninguém conhece tanto da neve quanto eu
que nunca vi

e as cadeiras rachariam
tombariam como cavalos alvejados pelas longas lanças macedônias
piquetes
e tenho saudades de armas que nunca vi
e dos fios que beijei enquanto dormia coberto de sangue, folhas e ocasionalmente alguns mortos
e até do negrume das balas
que, nem de balas eu gosto

doçura, gentileza
e aquele rosto tão lindo
que seria um impropério dizer que assombra minhas noites
faz mas é por me abençoar
com aquela sua ternura
ai ai.

se tudo isso me fizesse sentir menos dor.
menos dor.

não tomo remédios.
há séculos.
me cuido como dá.
a natureza dá lá seu jeito e vou vivendo enquanto o pulmão deixar.
mas, se quando eu for, o sofrimento espalhar essa dor, que sinto
se Réa não a quiser em seu leito e a disseminar sobre a terra
poupe, querida dor
aqueles que amo
por não saberem o que sinto
mas, por se esforçarem tanto, tanto em saber.

acho que no fim.
somos só eu e você.
sempre foi não é, nos três.
minha amada dor e a belíssima solidão.

e mesmo quando a escuridão vem fazer companhia
somos orgulhosos demais para ela.
e não me deixe, dor querida.
és tudo que tenho.

de lamúria a súplica.
é claro que já usurpaste minha sanidade
deixa ao menos, as palavras que me compõem
que não são só minhas
e que, jamais, serão suas.

a verdade está escondida em todas as flores
em cada instante que visito o céu em um rosto desconhecido
em cada oração de mãos calejadas para esse deus de tolos
em cada pomar que não dá frutos, mas que germina uma infinidade de cores

nem toda uva dá bom vinho
nem toda colheita bom azeite
nem toda solidão é um martírio
nem toda dor é um deleite
nem toda ficção é abstrata
nem toda ilusão desfoca a mente
corram todos enquanto é tempo
a dor faz os lobos mostrarem os dentes

eriçarem o pelo
correrem na mata
a dor que mastigo
mastigo tão incessantemente
é meu orgulho meu troféu

o que me separa entre as feras
ela diz, this is the city, the city of angels and all i see is dead wings.
eu sou o senhor dessa névoa.
o dono desta verdade
e ela não me diz nada que eu não queira.

é assim que me ergo.
afiando as garras nos corpos
levantando como um solo infinito
e como os infindáveis surrurros de mulher

função, destino, necessidade
tudo me faz conforme sou
mas, te digo, jovem, no último segundo
o que diz quem sou é a dor que carrego.

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